Naming wrongs

E se seu negócio tivesse nome de vírus?

O Sars-CoV-2 foi inicialmente conhecido como coronavírus, o que obrigou a cerveja Corona a um anúncio bem-humorado tão logo a pandemia se instalou

Vida de empreendedor é difícil. Não bastasse desembolsar recursos, dedicar horas intermináveis, pagar montanhas de impostos e encarar todo tipo de contratempo e incomodação, de repente o sujeito se depara com o nome da organização em maus lençóis – e por motivos que nada têm a ver com seu produto, serviço ou atendimento.

É o caso de empresas e marcas de todo o mundo que estão enfrentando o constrangimento de ver variantes da Covid-19 batizadas com as mesmas letras gregas que carregam em seu nome: delta e ômicron. As infelizes atingidas pela coincidência vão desde grandes fabricantes de equipamentos até pequenos restaurantes, passando por companhias aéreas e distribuidoras de energia – sem falar em uma invulgar e duplamente azarada organização sem fins lucrativos norte-americana chamada Delta Omicron (saiba mais aqui).

Vale lembrar que o próprio Sars-CoV-2 foi inicialmente conhecido como coronavírus, o que obrigou a cerveja Corona a um anúncio bem-humorado tão logo a pandemia se instalou: “need new name” (“precisamos de um novo nome”, em tradução livre).Sair-se com uma boa tirada também foi a alternativa encontrada pelo restaurante Omicron, em Wisconsin, sul dos Estados Unidos, que passou a comercializar uma camiseta onde se lê “I got Corona at Omicron” (algo como “peguei uma Corona no Omicron”), e por um executivo da Delta Airlines, que disse preferir “chamar a variante de B.1.617.2 (em vez de delta) porque é muito mais simples de lembrar e dizer”.

Especialistas em branding e naming devem estar se regozijando. Afinal, eles não são muito partidários de nomes “fáceis”, como letras gregas, deuses da mitologia ou palavras arbitrárias, justamente pelos riscos de coincidência com outros negócios e pela pouca diferenciação que oferecem. Geralmente recomendam que novas palavras sejam criadas para batizar uma companhia ou um produto, garantindo exclusividade de uso e associação imediata na mente do consumidor: Hopi Hari, Kodak e Viagra, por exemplo.

Mas garantia total não existe. Ayds – aparentemente uma palavra inventada – era um bom nome para um chocolate inibidor de apetite existente desde a década de 1940 na América, até a explosão da epidemia de aids, a síndrome da imunodeficiência adquirida, no fim do século passado. Crente de que “a doença é que deveria mudar de nome”, a fabricante tirou o confeito do mercado em 1993 depois de tentar rebatizá-lo como Aydslim e Diet Ayds.

No Brasil, talvez o caso mais notório caiba a uma instituição de ensino paulistana que abandonou o nome que carregava desde a sua fundação, em 1972, quando este virou sinônimo dos insólitos negócios do humorístico Casseta & Planeta – e a Faculdade Tabajara teve de se tornar Uni-Ítalo em 1999.

Inevitável? Nem tanto. Em Porto Alegre, as Lojas Tabajara, de moda feminina, continuam firmes e fortes.

E se seu negócio tivesse nome de vírus?

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