Estados do Codesul vão aumentar planejamento integrado de ferrovias e rodovias

Grupo de trabalho vai concentrar as ações para a integração logística entre os estados

Com o novo traçado entre o Mato Grosso do Sul e o Paraná, o governo de Santa Catarina também prevê ampliação de sua malha ferroviária, de Leste a Oeste e também entre os portos de Itajaí e Araquari

Os quatro estados que compõem o Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) planejam projetos conjuntos para melhorar a infraestrutura da região, com destaque para os modais rodoviários e ferroviários. Os governadores do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior; e de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva; o vice-governador do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Junior; e o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, discutiram o tema nesta segunda-feira (21), em Chapecó (SC), na primeira reunião do ano do bloco.

Eles assinaram a resolução que cria o grupo de trabalho para o planejamento integrado de rodovias e ferrovias do Codesul, que vai concentrar as ações para a integração logística entre os estados, que estão entre os principais produtores do agronegócio brasileiro. O projeto de maior envergadura nessa área é a Nova Ferroeste, que vai ligar Maracaju (MS) ao Porto de Paranaguá, no Litoral do Estado, e tem nos planos um ramal interligando Cascavel e Chapecó, cidades do Oeste paranaense e catarinense.

Ratinho Junior destacou que o projeto da nova ferrovia, que terá 1,3 mil quilômetros de extensão e investimento previsto de R$ 30 bilhões, está bastante avançado. A previsão é que as audiências públicas ocorram em abril. A liberação da licença prévia deve sair no final de maio, com a expectativa de que o projeto vá a leilão na Bolsa de Valores ainda neste semestre. “Iniciamos os estudos para a ampliação da ferrovia em 2019, mas a discussão para ligar Maracaju ao Porto de Paranaguá vem de décadas. O Mato Grosso do Sul depende muito do porto e é também um grande fornecedor de matéria prima para a produção de proteína animal. Paraná e Santa Catarina respondem por 70% da carne de porco e de frango exportada pelo Brasil”, salientou.

Segundo o estudo de viabilidade técnica, a Nova Ferroeste terá capacidade de transportar 38 milhões de toneladas de produtos já no primeiro ano de operação plena, tornando-se o segundo maior corredor de exportação de grãos e de proteína animal do País, atrás apenas da malha paulista. “Dentro dos estudos que fizemos, se chegou à possibilidade de construção de um ramal até Chapecó. Os produtores de proteína animal são muito dependentes dos grãos produzidos no Mato Grosso do Sul. Essa conexão vai criar um grande corredor de insumos para o Paraná e Santa Catarina e, no caminho inverso, de fertilizantes para o Mato Grosso do Sul”, relatou o governador.

Com o novo traçado entre o Mato Grosso do Sul e o Paraná, o governo de Santa Catarina também prevê ampliação de sua malha ferroviária, de Leste a Oeste do Estado e também entre os portos de Itajaí e Araquari. “É uma visão de futuro para Santa Catarina. Com a conexão entre Cascavel e Chapecó, vamos começar a trabalhar com projetos de Chapecó até o Planalto Serrano de Santa Catarina, formando um importante corredor Leste-Oeste”, explicou Carlo Moisés.

“Ao invés de rejeitar qualquer projeto que venha de outro estado, queremos aproveitar a integração que já temos através do Codesul. Os quatro estados são muito parecidos economicamente, e uma integração logística regional trará ganhos de eficiência, além da redução dos custos de transporte da produção e de insumos, principalmente para o Oeste catarinense. São investimentos coordenados, de médio a longo prazo”, destacou o governador de Santa Catarina. Ele também autorizou o lançamento de dois editais de licitação para projetos que criam novas ferrovias em Santa Catarina. Trata-se do Corredor Ferroviário Catarinense, que ligará Chapecó a Correia Pinto e terá 319 quilômetros de extensão, e a nova Ferrovia Interportos, entre Itajaí e Araquari, com 72 quilômetros de comprimento. Segundo o planejamento estratégico para o ano de 2035, Santa Catarina contará com 2,1 mil quilômetros de ferrovias em operação, o que inclui a construção de novos ramais, a recuperação de trechos e a manutenção dos traçados já existentes.

Grande exportador de grãos, o Mato Grosso do Sul não tem saída para o mar e conta com a integração logística com os outros estados para o acesso ao mercado internacional. “Temos um posicionamento muito forte em buscar saídas logísticas, exatamente pela dificuldade de acessar os portos”, explicou Jaime Verruck. “A competitividade do Mato Grosso do Sul passa necessariamente pela redução dos custos de transporte, e o nosso foco é a ferrovia. A Nova Ferroeste vai adentrar justamente na maior região produtora do Estado, 60% do que produzimos está no eixo da ferrovia”, salientou o secretário do Mato Grosso do Sul.”A forma como a malha está sendo concebida, de não adentrar unidades de conservação, áreas indígenas e quilombolas, antecipou muito o cronograma. A ferrovia vai gerar o desenvolvimento integrado de todas as regiões, já que ela também se conecta com a Malha Oeste, promovendo uma integração nacional”, complementou.

Durante o encontro, também foi firmado um termo de cooperação técnica para elaboração do diagnóstico e mapeamento de áreas desmatadas nos quatro estados-membro, por meio do compartilhamento da ferramenta Sistema Integrado de Monitoramento e Alertas de Desmatamento de Santa Catarina (Simad/SC). A ferramenta detecta, registra e gera alertas precisos de desmatamento após cruzamento de diversos bancos de dados e imagens de satélites. O código-fonte do sistema será compartilhado com os demais estados, para a criação de um banco de dados conjunto para observar onde há a supressão ilegal da vegetação. Em contrapartida, os governos estaduais compartilharão estudos, ações, programas e resultados relacionados ao tema. 

“A integração proporcionada pelo Codesul é um importante auxílio no desenvolvimento socioeconômico conjunto dos quatro Estados, e os temas tratados no encontro de hoje confirmam isso. Especialmente a pauta do meio ambiente, com a assinatura deste importante termo de cooperação para que os Estados possam desenvolver ferramentas semelhantes ao Simad, para monitoramento e alerta de desmatamentos”, destacou Ranolfo. No final do evento, o vice-governador convidou os integrantes do conselho para o South Summit, de 4 a 6 de maio, em Porto Alegre. “Um dos maiores eventos mundiais de inovação e tecnologia, que pela primeira vez ocorrerá fora da Europa. Por isso, deixo aqui o convite para que as equipes dos demais estados prestigiem o evento e aprofundem a discussão nesse tema tão importante”, finalizou.

A última reunião do Codesul havia sido em novembro do ano passado em Curitiba, no Paraná. O próximo encontro esta previsto ainda para este semestre. Criado em 1961, o Codesul integrava, primeiramente, os estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina e, em 1992, passou a contar também com o Mato Grosso do Sul. O principal objetivo do conselho é buscar alternativas aos desequilíbrios regionais e potencializar questões comuns aos estados-membros, sobretudo em questões essenciais como desenvolvimento econômico e social, além de fomentar a integração dos quatro estados com o Mercosul.

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