South Summit encerra sua segunda edição em dia repleto de temas sociais

Inclusão, economia circular e futuro da saúde foram destaques do último dia de evento

O tema da edição, Shape the Future, busca incentivar a criação de soluções e negócios que sejam inclusivos, sustentáveis e diversos

O último dia de South Summit Brazil, nesta sexta-feira (31), foi marcado por temas sociais como a necessidade de inclusão geracional nas estratégias de empresas, o futuro da saúde na era digital e estratégias de economia circular para combater o desperdício nos próximos anos. Em consonância com os outros dois dias de evento, a inovação e o networking foram foco central, fazendo jus ao tema da edição, Shape the Future, que busca incentivar a criação de soluções e negócios que sejam inclusivos, sustentáveis e diversos. AMANHÃ apresenta, a seguir, os destaques do último dia.

Os desafios da longevidade
Logo no início da manhã, Mórris Litvak, CEO e fundador da Maturi, e Martin Henkel, diretor do SeniorLab, juntaram-se ao mediador Luciano Lorenz, CEO da Webmed do Brasil, para levantar uma bandeira muito clara: é preciso que as marcas prestem mais atenção aos consumidores seniores, que, além de trazerem insights importantes para as marcas, também representam uma fatia bastante relevante do mercado de consumo. “Hoje o Brasil tem quase 17% da população com 60 anos ou mais, o que equivale a cerca de 35 milhões de pessoas. A renda da população 60+ no ano passado foi de R$ 1,3 trilhão, que ganharam em aposentadoria, investimentos, etc. Isso equivale a 13% do PIB nacional. Todo esse dinheiro vira reserva financeira, na sua maioria consumo. Estou mostrando o tamanho do bolo para as marcas para entendermos como vamos fazer para merecer uma fatia desse dinheiro e garantir uma entrega adequada e respeitosa, porque isso é inclusão”, defende Henkel. “Vale a pena mensurar, capacitar e entender como aproximar marcas e produtos desse consumidor, que está ávido por experiências e vai dar preferência para quem se aproximar, entendê-lo e atendê-lo adequadamente.”

Litvak segue a mesma linha, compartilhando dados que resumem a importância de toda a discussão: “A cada 20 segundos, nasce um 50+ no Brasil. Quando falamos desse consumidor, essa faixa já consome R$ 2 trilhões por ano na economia, já que tem mais poder aquisitivo que o jovem, e é mais fiel às marcas quando bem atendido.” Para ele, uma estratégia importante para as empresas atenderem a essa faixa de consumidores é, justamente, contratar pessoas seniores. “Muitas vezes as marcas não olham [para esse consumidor], e perdem essa fatia enorme de mercado justamente porque seu time é muito jovem”, aponta. Lorenz complementa, ainda, que esse público traz insights ainda mais valiosos de usabilidade, afinal, “o jovem já está inserido nesse ambiente [digital]. A gente enxerga que o mercado corporativo precisa de ajuda para enxergar isso.”

“À medida em que envelhecemos, vamos tendo perdas naturais em relação aos cinco sentidos, cognição. E elas são bastante sutis, a maioria dos casos são leves, porém suficientes para impactar nas ferramentas de marketing. Temos perdas visuais, auditivas, sensoriais, e que conversam diretamente com a comunicação. Considerando essas questões, conseguimos aperfeiçoar a linguagem, a composição de cores, o texto, as informações que são passadas para esse público para garantir ou minimizar a possibilidade de perda de informação, entendimento e contato na relação entre as marcas. Também gosto de falar que a interface de usuário para os 60+ não é apenas em tela digital. Um formulário impresso é uma interface, um atendimento num caixa de supermercado e telemarketing é uma interface”, analisa Henkel.

Combatendo o desperdício
Para alcançar uma economia circular, é preciso empoderar as próximas gerações, que serão responsáveis por seguir alcançando as metas que esse novo sistema exigirá. Foi a essa conclusão que Beatriz Johannpeter, diretora do Instituto Helda Gerdau, Sergio Roberto Finger Dutra Filho, CEO da Trashin, e Suelen Joner, head de sustentabilidade da Arezzo, chegaram durante o painel sobre economia circular que conduziram no Demo Stage. Durante a conversa, moderada por Vinícius Alves Abrahao, CEO da Gooxxy, ficou claro que o modelo circular pode trazer grandes soluções.

“Mudar o modelo de economia exige mudanças de estruturas e pensamentos. Isso leva tempo para acontecer, mas acho que o papel principal talvez seja colocar a nova geração em um papel de ação. Quando fazemos isso, elas se tornam a transformação que querem ver”, defende Suelen. Liderando a área de sustentabilidade da Arezzo, ela conta que as mais de 18 marcas do grupo vêm prestando cada vez mais atenção a essa tendência. “Acreditamos tanto que adquirimos a Troc, onde vendemos produtos de coleções passadas ou que tenham algum defeito. Também temos a Almi, marca criada recentemente que tem uma lógica circular desde a criação dos produtos. Todos passam por uma análise da pegada ambiental e entendemos como, através da substituição de materiais e processos, podemos reduzir nossa pegada de carbono. Hoje, 100% dos produtos da marca [Almi] são carbono zero”, exemplifica.

A Trashin, liderada por Dutra, trabalha com logística reversa para empresas como Havaianas, Nike, iFood e Arena do Grêmio, e reforça a importância de conhecer a fundo o ciclo de vida de cada produto. “Na economia circular, temos dois grandes fluxos, de entrada de resíduo de um lado e demanda de mercado do outro. As empresas estão com a sustentabilidade no cerne devido à demanda do mercado consumidor e do mercado financeiro, onde investimos o recurso. Então as pautas ESG têm um grande futuro, trazem rentabilidade e agregam valor aos produtos”, defende.

Já o Instituto Helda Gerdau, dirigido por Beatriz, é uma instituição familiar que vem fomentando o ecossistema de investimentos de impacto, ajudando o sistema a evoluir e gerar mais benefícios positivos. “Nessa cadeia de empreendedores que temos acelerado há novas oportunidades de trabalhar na cadeia e economia circular para mudarmos esse mindset de uma economia de descarte e uso e buscarmos um capitalismo mais consciente, tanto no papel das empresas quanto da sociedade como um todo”, explica Beatriz. O instituto está ajudando a trazer a Coalizão pelo Impacto, estruturada pelo Inovação em Cidadania Empresarial (ICE) de São Paulo, que está sendo lançado em seis cidades para impulsionar a transição à economia circular. “Queremos que a inovação venha acompanhada de impactos socioambientais positivos”, resume.

A saúde na era digital
O que nos move diariamente é a vida ou o medo da morte? A frase utilizada pelo CEO do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, durante seu painel no South Summit faz referência ao mundo da saúde, mas pode, também, ser aplicada aos desafios que o setor vem enfrentando para se adaptar ao novo mundo digital. “Estamos vivendo mais e envelhecendo mais. Alguns países estão em decréscimo populacional. Esse sistema vai colapsar”, adianta. “Nosso desafio é sair de uma população que vivia até os 50 anos e que agora caminha para a média de 90 anos. É maravilhoso? Depende da forma com que nos conectamos socialmente. Queremos viver muito, felizes e saudáveis. E todo mundo precisa caber no sistema. Essa é uma inequação que ainda não foi resolvida”, alerta.

Ao longo de sua fala, Perrini abordou a ocorrência de manifestações como as relacionadas à previdência, na França. “O modelo vigente até então é que os jovens saudáveis pagam a conta dos mais idosos que trabalharam, e esse modelo não pode mais ser assim. Precisamos de um novo para quando a pirâmide se inverter e tivermos mais idosos do que jovens.” Mas, para além dos desafios atuais, o setor da saúde ainda deverá passar por várias mudanças frente aos novos tempos. Com o envelhecimento da população, os gastos com a saúde vêm aumentando cada vez mais.

Com o retorno de desenvolvimento dos medicamentos acontecendo de forma exponencial, o tempo de pagamento para a viabilização das descobertas vêm sendo menor. “Aqui há outra inequação. Com mais gente velha demandando tratamentos, a indústria continua desenvolvendo projetos de P&D para entregar mais soluções. E como contrapartida, temos um menor tempo de payback, porque na sequência já vem uma nova descoberta. Então ela aumenta o preço do item. Um medicamento que custava R$ 10 mil passa a custar R$ 50 mil. A indústria vai ter que buscar soluções não só para diminuir o custo de P&D, mas a inovação e tecnologia precisam descobrir onde estão os desperdícios no tempo atual de atendimento. A telemedicina, por exemplo, é uma solução inovadora. Temos que usar os novos players para nos ajudar a diminuir esses dilemas”, explica Perrini.

Quanto ao futuro dos hospitais, o CEO do Moinhos de Vento ressalta que é incerto, mas que vem se preparando para isso – e enumera algumas tendências. Segundo Perrini, os modelos silados e individualizados de processos, como ambulâncias, planos de saúde e hospitais, têm gerado estresse e ineficiência; as expectativas dos pacientes estão se equiparando às de consumidores, com os pacientes em busca de soluções rápidas; a análise de dados preditiva vai ter um papel essencial na colaboração com médicos e hospitais; o setor trabalhará cada vez mais em ecossistemas, trazendo e conectando todas as etapas, seja num dispositivo móvel ou dentro de um hospital ou consultório, integrando isso como ecossistema. “Mas uma coisa é certa: o offline vai continuar sempre existindo, bem como o médico e o hospital. Talvez não mais na dimensão que esperamos, mas ainda existirão. Vamos ter de abraçar a mudança. O ChatGPT é muito interessante, e nos perguntamos, o que acontecerá com a sala de aula? Não pediremos mais para os alunos fazerem respostas, e, sim, perguntas inteligentes e aprofundadas. Esse é o mesmo caminho para médicos e hospitais.” 

Inclusão, economia circular e futuro da saúde foram destaques do último dia de evento

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