Defesa foi feita pelo gerente de logística na ArcelorMittal, Marcelo Luís de Campos, durante painel do Fórum Radar Reinvenção, promovido pela Fiesc
Para o gerente de logística na ArcelorMittal, Marcelo Luís de Campos, é de extrema importância a diversificação dos modais de transporte de cargas. “Não é possível que vamos ficar concentrados no modal rodoviário; o caminhão é essencial, vai estar presente em todos os modais, mas não pode mais fazer trajetos gigantescos”, afirmou, no painel Logística e Cadeias Globais do Fórum Radar Reinvenção, promovido pela Academia Fiesc de Negócios, em Florianópolis. Ele entende que o país precisa resolver as questões regulatórias da cabotagem e do sistema ferroviário. “Concessão de 30 anos para operação de trens no Brasil é insuficiente, precisa de no mínimo 100 anos, caso contrário teremos situações de investimentos pífios e exploratórios”, salientou.
O painel, que integrou a programação do segundo e último dia do Fórum Radar, contou com a participação do especialista em logística Carlos Manuel Taboada, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), além dos cases da ArcelorMittal (que produz insumos para outras indústrias) e da Nestlé, uma das maiores fabricantes de bens de consumo do país. Campos explicou que a ArcelorMittal enfrenta situação antagônica na logística de entrada de matérias-primas e de saída de produtos acabados. O modal hidroviário responde por 95% do transporte das bobinas brutas de aço a serem beneficiadas na fábrica de São Francisco do Sul, restando ao rodoviário os outros 5%. É a situação diametralmente oposta à da saída dos produtos fabricados – 95% pelo meio rodoviário e 5% pelo hidroviário.
A indústria está localizada ao lado de uma ferrovia, que não a atende, e em frente à BR-280. Um levantamento da empresa mostra que essa rodovia tem 554 interferências diretas em seus 35 quilômetros entre o Porto de São Francisco do Sul e o trevo com a BR-101 – são 216 estabelecimentos comerciais, 170 residências com acesso direto à rodovia, 105 interseções com vias urbanas e 63 indústrias. Todas essas interferências criam situações de risco de acidentes e reduzem a velocidade média do tráfego. Como alternativa, a ArcelorMittal resolveu adotar o fluxo noturno de operação de despacho, garantindo cadência no despacho de produtos e posicionando o estoque mais próximo ao cliente. Por causa das regras de tráfego noturno na rodovia, a empresa terá que reduzir o tamanho das carretas. de 25 metros para 19,8 metros.
Três mil voltas ao redor da Terra
A Nestlé também utiliza intensivamente o modal rodoviário – que responde por 98% do transporte doméstico e é utilizado também para exportações à Argentina. “Todos os dias a gente tem sobre rodas no Brasil algo em torno de 8 mil toneladas de produtos e insumo, e roda por ano 120 milhões de quilômetros por ano, o que equivale a 3 mil voltas ao redor da Terra”, afirma o Head de Supply Chain da Nestlé, Marcelo Nascimento. Ele alerta que, de maneira geral, as cadeias de suprimentos são interconectadas e, ao mesmo tempo, muito frágeis. Exemplo disso é a migração das embalagens plásticas para o vidro, realizada simultaneamente em vários setores, provocando escassez de material. “O equilíbrio frágil das cadeias surge da busca pela máxima eficiência, às vezes sem planos alternativos; qualquer mudança tem impacto muito grande no contexto global”, afirmou. “Não é suficiente monitorar a sua cadeia de suprimentos, tem que monitorar também as demais cadeias conectadas”, acrescenta.
Especialista em logística, o professor Carlos Manuel Taboada, da UFSC, defende que, a exemplo das demais operações industriais, a logística precisa ser digital, conectada, sustentável, inteligente, ágil, eficiente, confiável e resiliente. Salientando que a indústria não pode adotar uma posição conformista, apenas lamentando a falta de qualidade da infraestrutura de transporte. “É típico da indústria catarinense compensar as dificuldades externas por meio de melhorias de sua eficiência interna”, disse. Taboada acrescenta que a humanidade não comporta mais uma economia linear, de extração, fabricação e descarte. “Temos de pensar em cadeias de suprimentos circulares”, destacou.
Defesa foi feita pelo gerente de logística na ArcelorMittal, Marcelo Luís de Campos, durante painel do Fórum Radar Reinvenção, promovido pela Fiesc