Cooperativas do Sul projetam investimentos gigantescos para os próximos anos, estratégia que as tornará ainda mais importantes para a economia da região
Quarta maior empresa de abate de frango do país, a Lar tem, atualmente, um pouco mais de 22 mil funcionários, dos quais aproximadamente 16 mil atuam na área da avicultura. Para 2030, o objetivo é chegar a 38 mil empregados. “Essa mão de obra não existe na região e terá de vir de fora”, projeta o presidente Irineo da Costa Rodrigues. A meta da cooperativa paranaense para 2021 era atingir um faturamento de R$ 13,7 bilhões. No entanto, a empresa vai fechar dezembro com vendas ao redor de R$ 15 bilhões. Em uma década, esse valor chegará aos R$ 32 bilhões.
O caso da Lar ilustra como o pujante cooperativismo do Sul deverá ficar ainda mais fortalecido com o passar dos anos. Para se dar conta disso, basta um passar de olhos pela tabela ao final desta reportagem, feita com base nos balanços das 32 cooperativas presentes nesta edição de 500 MAIORES DO SUL. Juntas, elas somam uma receita de R$ 125,8 bilhões e um patrimônio de R$ 31,9 bilhões. A soma dos lucros em 2020 ultrapassou os R$ 6 bilhões e uma única cooperativa – a Coagrisol, de Soledade (RS) – obteve pequeno prejuízo.
“Estamos em uma trajetória de aumento da demanda e de alta nos preços das commodities, e com isso o agronegócio e as cooperativas do setor devem continuar firmes e com crescimento sólido, gerando renda aos cooperados e sendo propulsoras do crescimento econômico nas regiões de atuação”, anima-se Arno Pandolfo, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro). “Muitos investimentos estão sendo viabilizados e muitos ainda irão ser concretizados nos próximos anos.”
O otimismo preconizado pelo dirigente da Fecoagro reverbera em outras entidades do setor – a exemplo do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). As cooperativas do Paraná dobraram o faturamento de R$ 50 bilhões para R$ 100 bilhões e o objetivo agora é chegar aos R$ 200 bilhões dentro de cinco anos, como detalha José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar.
“A cada cinco anos, montamos um planejamento. Em 2015, as cooperativas toparam definir um desafio. À época, o faturamento era de R$ 50 bilhões. Foi então que estabelecemos a meta dos R$ 100 bilhões e resolvemos nos estruturar para isso. Em julho do ano passado, lançamos essa meta dos R$ 200 bilhões. Isso faz parte do cooperativismo no Paraná e é importante para definirmos um rumo da atividade”, exorta Ricken. O foco das ações para um novo faturamento recorde está no crescimento sustentável das cooperativas. “A nossa atuação vai além do agro, já que nós atuamos em sete ramos diferentes da economia. A cooperação é o nosso negócio. Vamos inovar e investir R$ 300 milhões em capacitação nos próximos anos”, antecipa Ricken.
Capacitação, aliás, é uma peça motriz na Cooperativa Central Aurora Alimentos, um sistema que congrega onze cooperativas com mais de 50 mil funcionários. A cooperativa estima ter receita bruta estimada em R$ 19 bilhões em 2021. A base de números tão robustos é uma rede de quase 68 mil produtores rurais, que em conjunto movimentam uma cadeia industrial de 17 frigoríficos e uma fábrica de lácteos, entre outras atividades.
O Programa Propriedade Rural Sustentável Aurora (PRS) tem como objetivo certificar as empresas rurais que participam do Programa de Qualidade Rural, D’olho e QT Rural, dentro do convênio da cooperativa catarinense com o Sebrae. A certificação garante boas práticas de gestão pautadas nos fundamentos e ferramentas da qualidade total, tornando as propriedades mais lucrativas, com melhor qualidade da produção, mais satisfação e bem-estar das pessoas e com uso adequado dos recursos naturais. “O sistema Aurora tem há mais de duas décadas uma aliança muito produtiva e consistente com o Sebrae, e esta aliança tem proporcionado tecnologias e recursos para a preparação dos produtores. Já passamos da marca de 30 mil famílias rurais que realizaram em suas propriedades algumas etapas imprescindíveis dos nossos programas em diferentes etapas”, contou o presidente Neivor Canton em entrevista recente concedida a AMANHÃ.
O QT Rural, de qualidade total, prepara o produtor para a gestão das propriedades. Os jovens agricultores produzem boletins, balanços e balancetes incorporando a linguagem do meio urbano e do meio empresarial. “Nosso produtor rural se orgulha também de ser um empresário rural. De fato, costumo dizer sempre que ser um empreendedor rural, um produtor rural, é mais complexo do que administrar uma pequena empresa no meio urbano. Porque a atividade do agronegócio é complexa, de fato. Nem sempre as mesmas propriedades produzindo as mesmas atividades dão o mesmo resultado”, pontua Canton.
A perder de vista
A Frísia, de Carambeí (PR), é apenas um dos exemplos da magnitude dos investimentos feitos pelas cooperativas do Sul. Fundada em 1925, a Frísia está colocando em prática o seu planejamento “Rumo aos 100 Anos”, um conjunto de propostas organizadas por estratégias e sistema de execução que serão concretizados até 2025. Ao longo desses cinco anos, investirá quase R$ 1 bilhão em expansão e novos negócios. No período de quatro anos, que culminará com o centenário, o mapa estratégico prevê o aumento da produção agrícola pela verticalização e expansão em novas fronteiras.
Na pecuária de leite, a cooperativa seguirá seus investimentos na intercooperação para acompanhar o crescimento da produção dos seus cooperados, enquanto na suinocultura está previsto dobrar o número de leitões para bancar a expansão de abate da unidade industrial de carnes. “Nos próximos anos, teremos os projetos de crescimento que elaboramos no nosso planejamento estratégico, e para realizá-los queremos desafiar não somente os cooperados, mas também os colaboradores. Temos vários investimentos, seja na produção da pecuária de leite, grãos e também suinocultura”, conclama Renato Greidanus, diretor-presidente da Frísia, a mais antiga cooperativa de produção do Paraná e segunda do Brasil.
Também emblemático é o caso da Cooperja, cooperativa agroindustrial localizada no sul de Santa Catarina que esperava alcançar R$1 bilhão de faturamento em 2024, mas já projeta alcançar esta cifra ainda em 2021 devido à boa fase que o agronegócio tem vivido. No ano passado, a cooperativa sediada em Jacinto Machado faturou quase R$ 700 milhões. No final de agosto, a Cooperja inaugurou seu novo parque industrial na cidade com um aporte de mais de R$ 75 milhões. O investimento é consequência da expansão que demandou mais espaço para atender suas necessidades de produção e armazenagem. A fábrica tem capacidade de produção de 10 mil fardos por dia e armazenagem de 2 milhões de sacas.
Mais ao sul, a Cooperativa Agrícola Mista General Osório (Cotribá), de Ibirubá (RS), pretende investir mais de R$ 120 milhões neste ano. Cerca de R$ 23 milhões serão aportados em uma nova unidade de armazenagem de grãos em Cruz Alta. Outros R$ 100 milhões irão bancar mais uma fábrica de rações em Ibirubá. A unidade, que terá sistemas robotizados no ensaque e expedição, produzirá 200 mil toneladas por ano.
Com a nova planta, a projeção é que a demanda por matérias-primas para a produção de rações dobre e alcance 1,7 milhão de sacas de milho, cevada e aveia, e de quase 90 mil toneladas de soja, trigo e arroz. A nova fábrica de rações deve ser entregue em 2023. A depender do apetite das cooperativas do Sul por novos negócios, elas se tornarão ainda mais importantes para a economia do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Este conteúdo integra o ranking 500 MAIORES DO SUL, publicado pelo Grupo AMANHÃ com o apoio técnico da PwC. Leia o anuário completo clicando aqui, mediante pequeno cadastro.
Cooperativas do Sul projetam investimentos gigantescos para os próximos anos, estratégia que as tornará ainda mais importantes para a economia da região