Atualmente, somente 8% das indústrias usam as ferrovias para transportar a produção
Trinta e oito por cento das indústrias trocariam o frete rodoviário por outro tipo de transporte, caso houvesse iguais condições estruturais entre os modais. Pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre infraestrutura mostra, ainda, que as ferrovias seriam a primeira alternativa para 28,5% dos industriais brasileiros para transferir suas operações de escoamento de produtos. Só não o fazem porque avaliam que hoje o setor ferroviário apresenta as piores condições entre os tipos de transportes – 31% consideram esse modal ruim ou péssimo. Atualmente, somente 8% das indústrias usam as ferrovias para transportar sua produção. Desses, 63% classificam o serviço prestado pelos trens como regulares, ruins ou péssimos, enquanto 31% dizem ser bom ou ótimo. A pesquisa revela que 99% das empresas utilizam os caminhões; 46% usam em algum momento o transporte aéreo; e 45%, o portuário. Na sequência, aparecem a cabotagem (13%) e hidrovias (12%).
As principais razões apontadas pelos 2.500 executivos entrevistados para mudar a operação para outro modal são a perspectiva de redução de custos (64%) e a maior agilidade para a entrega do produto (16%). Para 46% dos empresários, o custo é o principal problema na logística e operação das empresas. Segundo 84% dos entrevistados, o custo do transporte e da logística na indústria é alto ou muito alto – 79% indicam o frete como o principal custo logístico. Outros problemas relatados são o roubo de cargas (22%), má condição dos modais (20%) e má qualidade da frota (7%).
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, afirma que os aumentos dos investimentos em infraestrutura e a diversificação dos modais de transportes são imprescindíveis para reduzir os custos dos serviços e de produção. “Essa pesquisa mostra que há um enorme déficit na oferta de opções de transportes no Brasil. O custo logístico das empresas e consequentemente dos produtos para o consumidor só serão menores quando tivermos uma infraestrutura adequada”, diz Robson Andrade.
Condições de infraestrutura para as indústrias
Apesar de terem apontado problemas especialmente relacionados aos transportes como obstáculos no dia a dia das empresas, 56% dos empresários industriais ouvidos pela pesquisa classificaram as condições de infraestrutura para as indústrias como boas ou ótimas, embora três das quatro mais bem avaliadas não estejam no setor de transporte de cargas. Na avaliação deles, as áreas que estão em melhores condições são a de energia (65% ótimo ou bom), as de telecomunicações (60% ótimo ou bom); a de transporte aéreo (56% ótimo ou bom); e de saneamento básico (48% ótimo ou bom). O transporte por rodovias é classificado como bom ou ótimo por 46%. Na sequência, aparecem portos, com 39%; e por último transporte por hidrovias (16%) e por ferrovias (16%).
O gerente de transporte e mobilidade urbana da CNI, Matheus de Castro, alerta que, mesmo diante da extrema dependência dos caminhões para o transporte de cargas no país, há um déficit enorme na oferta de serviços de transporte rodoviário, bem como nos modais ferroviário e hidroviário. “Se tivéssemos mais oferta na parte da logística, o custo total do transporte para a indústria seria muito inferior. Isso vai muito além da disponibilidade de caminhões ou trens, é tudo que envolve e contribui para a maior eficiência da movimentação de cargas no país”, avalia. “O Brasil tem potencial para o transporte de cabotagem, hidroviário e ferroviário, especialmente depois da criação do Programa BR do Mar e da aprovação do novo marco legal de ferrovias. Temos um grande potencial para equilibrar melhor a nossa matriz de transportes”, destaca. “Nenhum outro país continental como o Brasil utiliza tanto o transporte rodoviário como a forma principal da movimentação de cargas e de pessoas. Não faz sentido o modal rodoviário ser tão utilizado em distâncias longas”, acrescenta Castro.
Modal rodoviário não é o indicado para longas distâncias
Embora o modal rodoviário seja indicado apenas para pequenas e médias distâncias, somente 48% dos industriais apontam trajetos com média inferior a 500 quilômetros para transportar suas mercadorias. Como sugere a pesquisa, existem situações no país em que ocorre o embarque de cargas industriais em São Paulo com destino à Belém, ou o envio de produtos da indústria alimentícia de Porto Alegre para Teresina, com percursos de cerca de 2,9 mil km e 3,7 mil km, respectivamente.
A CNI alerta que a utilização do modal rodoviário nesses tipos de despacho gera perdas econômicas com um maior custo logístico associado ao consumo de combustível, níveis de acidentes, engarrafamentos, emissões de poluentes e deterioração dos veículos e vias. Como consequência, o setor produtivo nacional perde competitividade em relação a outros mercados.
Brasil precisa ampliar em três vezes investimentos em infraestrutura
A CNI produziu dois estudos sobre infraestrutura que foram entregues aos principais candidatos à Presidência da República. Os trabalhos têm foco em transportes e energia. O Brasil precisa aumentar os investimentos em transportes em, pelo menos, três vezes para eliminar os gargalos que impedem o país de ser competitivo e tornar sua logística adequada para o escoamento interno de cargas, bem como para as exportações e importações. Atualmente, o país investe em infraestrutura de transportes apenas 0,65% do Produto Interno Bruto (PIB). O patamar ideal para modernizar a logística de transporte do país seria de 2% do PIB.
A pesquisa encomendada pela CNI foi realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, que entrevistou 2.500 executivos de grandes e médias empresas industriais, nas 27 unidades da Federação, sendo 500 em cada região. O campo foi feito entre os dias 23 de junho e 9 de agosto. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%.
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Atualmente, somente 8% das indústrias usam as ferrovias para transportar a produção