Curitibana Thais Romfeld de Lima percebeu o potencial da bebida e decidiu desenvolver sua própria marca
O gim, destilado à base de zimbro e de cereais, é a base de coquetéis com a cara do verão, como gim-tônica. Mas a bebida destilada ainda tem a produção incipiente no Brasil e, na maior parte dos casos, é feita por homens. A curitibana Thais Romfeld de Lima, 34 anos, quebrou esse tabu. Ela percebeu o potencial da bebida e decidiu desenvolver sua própria marca. Assim, tornou-se a primeira mulher produtora de gim do Brasil. Para chegar à produção do Route Gin, criado em 2019 e produzido no município de Colombo (PR), Thais trocou uma carreira de sucesso na área de direito pelos desbravamentos no mundo do empreendedorismo. Nessa jornada, contou com o apoio do programa Bom Negócio da prefeitura de Curitiba, realizado pelo Vale do Pinhão.
“Faço o gim até com o pé nas costas, mas eu precisava pensar no crescimento da empresa. O Bom Negócio foi essencial para eu projetar custos, precificar o produto e, principalmente, ampliar meus contatos comerciais. Três meses depois do programa, eu já tinha dobrado meu lucro”, revela Thais. Foram dois anos de preparação para entrar no mercado. Entre 2020 e 2021, cuidou da definição da receita autoral, na produção artesanal da bebida, na montagem da estrutura na área rural de Colombo para instalar o alambique de cobre, na regularização e aprovação técnica do produto. No ano passado, a Route Gin acelerou: com uma produção de 50 garrafas a cada lote, iniciou as vendas em feiras e via internet, diretamente ao consumidor. O gim produzido por Thais também está na carta de drinks de nove bares de Curitiba e da Ilha do Mel.
Quando decidiu que lugar de mulher também é na destilaria, Thais definiu que começaria do início: aprender como é feito o gim. No primeiro curso para destilar a bebida, era a única mulher. A maioria masculina, por vezes, intimida, ela diz, mas não o suficiente para desmotivá-la. “Senti algumas resistências por ser mulher neste meio. Nas negociações, quando meu marido vai junto negociar a distribuição dos lotes com outros homens, flui melhor, embora quem saiba tudo sobre o produto seja eu”, conta a microempreendedora. Para que outras não passem por isso, ela tem priorizado parcerias femininas: são mulheres as suas representantes comerciais e a responsável técnica do produto.
A marca paranaense de gim aposta na sustentabilidade ambiental e no uso de produtos locais para se sedimentar e expandir no mercado. A produtora incluiu a mexerica e o limão rosa na receita para ter um saber mais intimista e de qualidade e que identifique a região onde foi produzido. Seu gim também leva o obrigatório zimbro, coentro, angélica, alcaçuz, pimenta Jamaica, jasmim e cardamomo. A água usada vem do Aquífero Karst e tem baixo teor de impurezas, facilitando a filtragem, o que contribui para a qualidade do produto final.
A produção sustentável é outro diferencial. Thais e o marido, João Rafael Bernardelli Gouveia, 42 anos, criaram um sistema de resfriamento que reutiliza a água, evitando desperdícios. Os resíduos sólidos estão sendo testados como compostagem e os líquidos têm descarte correto. Os clientes também podem retornar as garrafas de vidro, que passam por um processo de higienização específico e podem ser reaproveitadas.
Gim, o favorito da rainha
O gim é famoso não só pela composição de drinques badalados como a gim-tônica, mas também era uma das bebidas favoritas da rainha britânica Elizabeth II – o que fez com que a Realeza produzisse o seu próprio rótulo, feito com 12 botânicos secretos colhidos nos jardins do palácio. Apesar de o mercado brasileiro ainda ser dominado por marcas estrangeiras, o potencial de expansão para rótulos nacionais é grande: o consumo de gim no mercado brasileiro saltou de 1,1 milhão de litros em 2016 para 13,1 milhões de litros em 2021, segundo levantamento da Euromonitor. A estimativa é que, até 2026, o volume triplique para 35,1 milhões de litros por ano. Criado na Holanda no século 17, o gim ganhou popularidade na Inglaterra, onde ganhou qualidade. O nome deriva de variantes do nome zimbro em diversos idiomas (genever, em holandês; genievre, em francês, e ginepro, em italiano).
Curitibana Thais Romfeld de Lima percebeu o potencial da bebida e decidiu desenvolver sua própria marca