Um CEO é sincero sobre 2023: “não sei”
Certa vez, um dirigente do futebol júnior do Internacional foi perguntado sobre o que ele e a comissão técnica conheciam a respeito do adversário a ser enfrentado dali a alguns dias, num torneio importante. O sujeito foi sincero como não se pode ser: “nada”. A falta de malícia surpreendeu, pois, dissesse que o oponente jogava assim ou assado, recorrendo aos clichês de sempre do futebol, em nada mudaria os rumos da entrevista ou do jogo, e ele evitaria pagar um mico desnecessário.
Executivos costumam ser mais matreiros quando consultados a respeito de algum assunto, especialmente as perspectivas de um ano que inicia. Emendam platitudes sobre economia e mercado e falam sem dizer muita coisa, apenas o suficiente para preencher páginas impressas ou virtuais e não macular a própria reputação. Daí a minha surpresa quando o CEO da startup de games e serviços para celulares Bemobi, ao ser perguntado sobre o Brasil e os países emergentes em 2023, tenha se saído com uma candidata a pérola: “não sei” (O Globo, 05/12/2022).
Joguemos pedras em Pedro Ripper, o tal executivo? De modo algum. Tivesse ele ficado na frase acima e encerrado o assunto, talvez o conselho da companhia, se é que existe, o destituísse no dia seguinte. Mas ele foi além e explicou: “dado que temos a humildade de saber que é difícil prever, o que fizemos foi diversificar. Nossa receita está mais distribuída em vários países. Raramente tudo vai mal ou bem ao mesmo tempo”.
Grande resposta. E que não ficou por aí. Ripper acrescentou: “outra forma de diversificação é de perfil de consumo. Quando estávamos expostos somente à assinatura de jogos, o ambiente de recessão tinha um efeito negativo. No mercado de microcrédito, quando o dinheiro está mais apertado, o usuário toma mais crédito. A gente tentou criar um portfólio de soluções mais acíclicas”.
Tentemos enxergar a realidade com os óculos da Bemobi e veremos que, por atuar em muitas nações emergentes, sujeitas a intempéries imprevisíveis, o CEO tinha mais é que proteger a companhia – ficar adivinhando o que vai acontecer, além de inútil, tiraria energia do que está sob seu controle, a oferta de serviços. Como disse certa vez Jim Collins, é menos importante planejar do que estar preparado, e, ao que parece, Ripper optou pela segunda opção.
A entrevista completa do CEO, que tem vários insights interessantes, você lê aqui.
E o que vai acontecer com o Brasil e outros mercados emergentes em 2023 você… espera para ver, ora.
Um CEO é sincero sobre 2023: “não sei”