Projeção da Abrage inclui ampliação e modernização de usinas atuais, além de novos empreendimentos
O Brasil tem potencial para aumentar sua capacidade de geração de energia a partir de hidrelétricas em 86,4 GW (gigawatts). Trata-se de um ganho de 79% ante a potência instalada de 109 GW que o país possui atualmente. A projeção foi feita pela Associação Brasileira de Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage). Esse cenário inclui a ampliação e modernização das centrais hidrelétricas atuais, além da viabilização ambiental de novas construções que estão em estudo e da adoção do modelo de usinas reversíveis no país. Só com o aprimoramento das geradoras existentes, seria possível uma adição de 18,4 GW de capacidade.
O estudo da entidade leva em conta a adoção de usinas reversíveis no país, seja em hidrelétricas existentes ou novas. Elas funcionam como baterias naturais, com maior capacidade de armazenamento de água. Pelo modelo, há dois reservatórios, um superior e outro inferior, conectados e geralmente menores que uma usina tradicional no Brasil. As projeções também consideram apenas as usinas hidrelétricas, ou seja, aquelas de grande porte. De acordo com a diretora-presidente da Abrage, Marisete Dadald Pereira, o uso desse potencial ajudaria a dar confiabilidade ao sistema elétrico no futuro em episódios de seca como o atual.
No caso dos 7,4 GW que podem ser adicionados com investimentos em 14 usinas, Marisete explica que são projetos que podem competir no próximo leilão de reserva de capacidade na forma de potência. O certame, que deve ocorrer até o início de 2025, contrata a potência de usinas que ficam como backup do sistema, sendo acionadas nas horas de maior pico de demanda. O leilão terá, pela primeira vez, a contratação de hidrelétricas. Em 2021, o leilão só contratou térmicas. Segundo Marisete, as usinas hídricas são confiáveis para essa entrega de potência mesmo durante a seca, uma vez que ainda são as que mais seguram o fornecimento nos horários de pico – juntamente com as termelétricas.
As hidrelétricas, que são usinas de energia renovável, vêm perdendo espaço na matriz elétrica brasileira para outras fontes renováveis, sobretudo a eólica e a solar. No entanto, essas novas tecnologias são intermitentes, instáveis e só geram em alguns horários, de acordo com a Abrange. As hidrelétricas, por outro lado, têm geração firme, sobretudo aquelas com grandes reservatórios, que ficam menos suscetíveis a grandes períodos de estiagem. Para o CEO da Enercons, engenheiro eletricista Ivo Pugnaloni, a carga no sistema elétrico que essa nova unidade industrial vai acrescentar não poderá ser sustentada por geração solar, altamente influenciada por dias nublados, chuvosos e pelo inexorável horário depois das 16 horas, quando o sol vai se pondo.”Só fontes hidrelétricas ou termelétricas podem suprir cargas como essa, pois são permanentes. Resta saber se o Ministério de Minas e Energia vai preferir gerar energia elétrica com água nacional, ou com derivados de petróleo importados, caríssimos e poluentes” comentou o executivo da empresa especializada em energia renovável sediada em Curitiba.
Para o futuro, a Abrage vê espaço para os projetos de repotenciação também participarem dos leilões de potência. Já para as usinas reversíveis, a entidade defende que o leilão de armazenamento, que vem sendo estudado pelo governo, inclua as hidrelétricas reversíveis além das baterias químicas acopladas a fontes intermitentes. A Abrage representa 23 empresas geradoras que respondem por 90% da capacidade hidrelétrica do Brasil. Dentre elas, estão Itaipu Binacional, Eletrobras e Norte Energia.
Projeção da Abrage inclui ampliação e modernização de usinas atuais, além de novos empreendimentos