Estudo inédito da Anbima revela que compreensão do mercado sobre sustentabilidade é heterogênea
Pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) realizada com 209 gestoras de recursos aponta que os critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) mais observados pelas gestoras de recursos são a transparência (92%) e a ética (92%), que fazem parte do G de governança. Isso reflete o fato de que, historicamente, o mercado está mais acostumado a relacionar a gestão das empresas ao seu desempenho financeiro, enquanto aspectos ambientais e sociais passaram a ser contemplados mais recentemente.
“Por ser um tema discutido e tratado há mais tempo, a governança chama atenção. No entanto, as questões observadas pelas gestoras são amplas, como transparência e ética. Aspectos específicos, por exemplo, remuneração e independência do conselho de administração, precisam evoluir”, afirma Cacá Takahashi, vice-presidente da Anbima e coordenador do grupo consultivo de sustentabilidade da associação.
Aspectos relacionados às dimensões ambiental e social, respectivamente, foram mencionados com menor frequência durante a pesquisa. Dentro de ambiental, aparecem com destaque o uso de recursos naturais (76%), tecnologia limpa (71%) e poluição (71%). No campo social, chama atenção a observância aos direitos humanos (73%). “Sem dúvida, a consciência dos players aumentou, mas quando se entra em questões específicas, observamos um mercado fragmentado, que ainda precisa compreender o tema em maior profundidade”, opina Takahashi.
De maneira geral, critérios relacionados à diversidade, como política de inclusão e composição do conselho de administração, são os que ainda recebem menos atenção dos gestores.
Nem todo mundo está na mesma página
Quando o assunto é sustentabilidade, nem todo mundo está na mesma página. Esse foi outro ponto encontrado pela Anbima em seu levantamento. Foram encontrados cinco perfis de comportamento, que englobam desde os profissionais que não veem ganho nessa bandeira até aqueles que têm a sustentabilidade no centro dos negócios. Eles foram chamados de desconfiados, distantes, iniciantes, emergentes e engajados. “Conhecer os diferentes modelos mentais sobre sustentabilidade que prevalecem entre os players é essencial para traçarmos uma agenda de trabalho eficiente”, afirma Takahashi.
Os desconfiados enxergam as práticas ESG como uma ameaça para o desenvolvimento de seus negócios. Já os distantes têm uma visão simplificada da sustentabilidade e encaram como algo ligado às questões ambientais. Os iniciantes também acham que o tema é focado no meio ambiente, mas eles têm ações concretas, mesmo sendo a maioria delas ainda dentro de casa, a exemplo da reciclagem de copos plásticos.
Enquanto isso, os emergentes estão mais avançados na agenda: compreendem a relevância dos aspectos ESG e estão em fase de implementação de processos mais abrangentes. Por fim, os engajados veem a sustentabilidade como parte da estratégia da instituição, embalando produtos e serviços com esses critérios e cobrando transparência nas relações da empresa com todos seus stakeholders.
“Quando analisamos os dados, vemos que a sigla ESG está distante de 67% das casas. No entanto, os perfis encontrados mostram uma trilha de amadurecimento e evolução das instituições, com exceção, claro, do desconfiado”, complementa Takahashi.
Embora heterogêneo, o mercado caminha para uma evolução. Oitenta e sete por cento das instituições afirmam que o assunto ganhou relevância nos últimos 12 meses. Quase a totalidade do mercado (90%) tem certeza de que ele ganhará ainda mais no próximo ano. “A sustentabilidade não é um tema novo no mercado, no entanto, com a pandemia de Covid-19, ele ganhou tração por conta da mudança da percepção de risco dos investidores. Esse movimento é positivo e, sem dúvida, ajudará a alavancar essa pauta”, afirma Takahashi.
Em recorte específico feito nas gestoras de recursos, 80% afirmaram ter uma política de investimento responsável ou um documento que formalize seu tratamento ao tema ESG (concluído ou ao menos em estágio de desenvolvimento). Em 2018, quando o mesmo levantamento deste recorte foi realizado, o percentual era menor (68%). Um terço (33%) das gestoras estão em processo de desenvolvimento de um documento incorporando questões ESG. Também aumentou o volume de ativos analisados sob as lentes ESG. Cerca de 29% das casas avaliam de 80% a 100% de seus papéis, o que representa aumento de 12% na comparação com a pesquisa anterior.
Confira, a seguir, o estudo completo disponibilizado pelo Portal AMANHÃ.
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