Piora nas condições de consumo faz com que três em cada dez famílias atrasem contas e dívidas
O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer alcançou 77,7% do total de famílias brasileiras em abril, a maior proporção da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Apurado desde janeiro de 2010 pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o índice avançou 0,2 ponto percentual no mês e 10,2 pontos percentuais em relação a abril de 2021, quando a parcela correspondia a 67,5%
De acordo com a pesquisa, a tendência de alta no endividamento se mantém ainda com os juros de mercado mais elevados. “A inflação alta, persistente e disseminada mantém a necessidade de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para a manutenção do nível de consumo”, avalia José Roberto Tadros, presidente da CNC.
Apesar de oferecer os custos mais elevados, o cartão de crédito segue como o tipo de dívida mais comum entre os consumidores. O endividamento no cartão de crédito foi a única modalidade que apresentou aumento em abril, representando 88,8% de famílias com dívidas e revelando que o endividamento está ocorrendo essencialmente no consumo de curto prazo. O tempo de comprometimento com dívidas caiu novamente em abril (7,1 meses), com mais pessoas endividadas no período de até três meses (25,1% do total de endividados). Já o percentual de endividados por mais de um ano segue em queda, representando 32,9% dos endividados.
A parcela da população com dívidas ou contas em atraso também alcançou o maior patamar histórico, atingindo 28,6% do total de famílias. Já a fração que declarou não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e, portanto, permanecerá inadimplente chegou a 10,9% e apresentou aumento mais modesto de 0,1 ponto percentual ante março. Na avaliação por faixa de renda, o endividamento seguiu crescendo nos dois grupos apurados, com destaque para o das famílias com ganhos acima de dez salários mínimos, que desde o início do ano vem apresentando avanço mais acelerado do que o da parcela com menor renda.
Com 74,5% das famílias mais abastadas endividadas, o percentual é o maior da série histórica da pesquisa, registrando alta de 11,4 pontos percentuais na comparação com abril de 2021, o maior crescimento anual já observado. No grupo com renda até dez salários mínimos, o percentual de endividados chegou a 78,6%. Entre as famílias de menor renda, o indicador de contas/dívidas atrasadas destacou-se ao alcançar 31,9% das famílias desse grupo, o maior nível histórico. Já entre as famílias com renda superior a dez salários mínimos, o percentual também aumentou e alcançou 13,5% de famílias, o maior percentual desde abril de 2016.
A economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, avalia que a alta da inadimplência nas duas faixas de renda está associada ao consumo em um pior ambiente inflacionário. “Os orçamentos mais acirrados têm levado mais famílias a atrasarem o pagamento de contas e dívidas e usarem mais o cartão de crédito, que é a modalidade de dívida para o consumo de curto prazo”, conta Izis. Ainda segundo a economista, os dois indicadores de inadimplência da Peic apontam tendência positiva maior entre as famílias de menor renda. Além disso, o contínuo encarecimento do crédito e a fragilidade apresentada no mercado de trabalho devem seguir afetando negativamente a dinâmica da inadimplência.
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