Para Dan Reznik, IA ainda não alcança os níveis de abstração e de compreensão do raciocínio humano
A inteligência artificial (IA) ainda está longe de alcançar os níveis de abstração e de compreensão do raciocínio humano, analisa o consultor Dan Reznik, da Fundação Dom Cabral. Apesar de se sobrepor ao raciocínio humano em alguns aspectos, como antever passos de um jogo de xadrez, os sistemas baseados em IA “não têm entendimento real, representacional ou semântico; tudo é estatístico”, afirmou o especialista, na palestra de abertura do Radar Pocket Transformação Digital, promovido pela Academia Fiesc de Negócios e SenaI/SC, nesta quinta-feira (17), em Joinville. Para Reznik, a inteligência artificial não consegue ter o mesmo desempenho que o homem na análise de combinações de um conjunto de eventos para a tomada de decisão. “A gente resolve de maneira robusta”, ressalta. “Na questão da abstração em vários níveis, o ser humano consegue abstrair e comprimir a informação, o que na IA ainda é limitado”, acrescenta. Leia aqui a reportagem especial de AMANHÃ sobre o uso da IA no marketing.
Apesar desse entendimento, Reznik não descarta os riscos da IA. Tanto é que seus principais desafios estão no alinhamento aos objetivos humanos e na segurança, ambas questões de extrema complexidade. Ele destaca que nem mesmo os objetivos humanos são um consenso, especialmente sob a ótica cultural. “Quais são os valores que a inteligência artificial vai adotar?”, questiona. Outros aspectos culturais, aparentemente mais banais, igualmente dificultam o desenvolvimento de padrões de IA, como é o caso das diferenças de significado de expressões faciais nos diversos países. O especialista lembra que a inteligência artificial não é algo recente, pois já em 1997, o computador Deep Blue derrotou o enxadrista Garry Kasparov – que tinha sido campeão mundial de xadrez entre 1985 e 1993. “Kasparov pensava 13 passos à frente, mas o computador conseguiu pensar 14 passos adiante”, afirmou Reznik. Mesmo assim, ele acredita que a IA carece de mais um século para alcançar um nível que a aproxime da capacidade humana de raciocinar e planejar.
“Somos manipulados por ferramentas que nos induzem a clicar”
Alguns avanços de IA podem ser observados sob uma ótica da manipulação humana. Reznik cita os algoritmos que induzem as pessoas a clicar em links da internet e o estímulo de raiva e polarização provocado pelas redes sociais. “Hoje somos manipulados por ferramentas que nos levam a clicar, pois os algoritmos já conhecem quais são as motivações que nos levam a adotar um determinado comportamento”, completa. Exemplos como esses justificam os temores da humanidade que a IA se torne mais inteligente que os humanos ou de que a autonomia dada a esses sistemas não retorne às pessoas. “Nunca se deve criar risco contra nossa integridade”, salienta o especialista.
“Futuro dos negócios é humano e regenerativo”
Debatedores do evento, Alex Marson (CEO da Christal), Margarete Favretto (líder global de Indústria 4.0 da Bunge), Marcelo Pinto (CEO da PPI-Multitask, do Grupo Weg) e Daniel Moraes (diretor de Inovação e TI da Tupy) citaram a necessidade de promover uma transformação cultural nas empresas antes de levar adiante a transformação digital. “Falar de transformação digital olhando para paradigmas de hierarquia, controle, competição, sem enxergar essa camada de colaboração que precisa estar presente, é algo que não faz sentido”, defendeu Alex Marson. “Nossa transformação digital começa na transformação cultural, quando a gente começou a olhar para as nossas relações, se estavam ou não adequadas ao nosso mundo atual. Como a gente foge daquela ideia de que a empresa está lá para servir a um grupo específico de stakeholders, explorando de uma forma muitas vezes desbalanceada os demais stakeholders e gerando problemas de sustentação do sistema”, acrescentou. Para Marson, o termo “neoindustrialização” sugere uma perspectiva da existência de componentes culturais ou sociais, não contemplados na ideia de voltar a fazer aquilo que já foi feito um dia, ideia presente no termo “reindustrialização”. “O futuro dos negócios é humano e regenerativo; o modelo de extração já mostra claramente os sinais de esgotamento”, afirma.
No aspecto cultural, Margarete Favretto observou que as mais diversas áreas das empresas precisam mudar sua forma de pensar. Ela destacou que, no contexto da transformação digital, são necessários ainda estabelecer prazos, comunicação e integração e gestão de expectativas. Além disso, empresas com unidades localizadas longe de grandes centros urbanos ainda enfrentam gaps do 3G e falta de conectividade nos estabelecimentos mais remotos. Daniel Moraes salientou que os princípios da transformação digital da Tupy são simplificação do tema, desenvolvimento de pessoas, foco, plano diretor para a transformação, movimento do simples para o complexo, conhecimento profundo do negócio e dos processos, análise criteriosa de todos os passos para evitar riscos, cibersegurança e compreensão de que inovação e transformação digital não são a mesma coisa, embora possam interagir.
Marcelo Pinto destacou a necessidade de uma visão sistêmica da empresa. Ele exemplificou com a análise do índice de maturidade da Acatech (a National Academy of Science and Engineering, da Alemanha), que não deve se limitar à tecnologia, mas igualmente deve envolver governança, gestão do chão de fábrica, do lean manufacturing, gestão de produtividade, gestão de qualidade, melhoria contínua. “Na Weg é tudo totalmente conectado”, salienta, ao lembrar que a empresa tinha 60 anos de construção de sua cultura organizacional.
Para Dan Reznik, IA ainda não alcança os níveis de abstração e de compreensão do raciocínio humano