…ou quem é obrigado a?
Quando uma incorporadora paulistana ofereceu a Gero Fasano, presidente do grupo de hotéis e restaurantes que leva seu sobrenome, um terreno em área nobre de São Paulo, ele, de início, recusou. Mas ao tomar conhecimento de que um concorrente ocuparia o espaço, resolveu abrir seu segundo hotel paulistano. “Às vezes você cresce para ficar no mesmo lugar e também para não ceder espaço”, resignou-se (Veja São Paulo, 28/04/23). Na singela frase de Fasano, um imperativo dos negócios: crescer, às vezes, é obrigação, não escolha. Por quê? Bem, porque uma empresa define a própria estratégia, mas não a dos concorrentes; se estes optarem por acelerar, inevitavelmente vai-se ficar para trás. No caso específico do Fasano (foto), não ocupar o novo espaço significaria deixá-lo à mercê de um adversário que poderia reivindicar o título de hotel de luxo mais novo (e bem-localizado) de São Paulo. Desde que o primeiro Hotel Fasano abriu as portas, há 20 anos, surgiram o Emiliano, o Palácio Tangará e o Rosewood para disputar a preferência do hóspede de alto padrão. O empreendimento da família de origem italiana manteve o prestígio, claro, mas perdeu a aura de novidade.
Além disso, uma megalópole como São Paulo comporta muitas cidades dentro de si. Há o Centro velho, a área financeira, os bairros descolados, aqueles voltados aos serviços e os eminentemente residenciais. Ter apenas uma operação na capital paulista significa ignorar um potencial de mercado equivalente ao de cidades médias como Porto Alegre e Curitiba, por exemplo. Sem a necessidade, contudo, de correr os riscos de ingressar em municípios de menor apelo turístico ou que simplesmente não são compatíveis com a proposta sofisticada do Fasano. Mas nada disso seria viável se o conglomerado não tivesse solidificado seu primeiro endereço em São Paulo. Como lembra Michael Tracy, ex-professor do MIT, “se você quer crescer, não pode se dar ao luxo de encolher. Concentre-se primeiro em preservar os clientes que já possui” (Adapte-se ou Morra, p.171-2). Ou seja, só alcança um degrau mais alto quem não caiu para o anterior.
Para além do tema crescimento, o caso Fasano também é ilustrativo das chamadas estratégias emergentes. Aquelas que não são propriamente planejadas, mas que acabam adotadas diante de obstáculos e oportunidades imprevistos. “Juro que, no início, eu não queria mais um hotel na cidade”, disse Gero Fasano à Veja São Paulo.Não há por que duvidar da afirmação. Há duas décadas os hotéis do Grupo vêm se espalhando por outros destinos turísticos do país e do exterior, sem ocupar novos espaços na capital paulista. Mas bons terrenos não aparecem a toda hora, o que serviu de motivo para desviar um pouquinho do planejamento e abrir a filial. E, assim, de portas abertas, o novo Hotel Fasano habilita-se não apenas a oferecer o reconhecido padrão de qualidade dos empreendimentos da família, como também pequenas lições de estratégia empresarial.
…ou quem é obrigado a?