O fio condutor de todos os assuntos que passaram pelos palcos do evento foi a importância da conexão para gerar inovação
Nesta quinta-feira (30), segundo dia de South Summit Brazil, um tema em comum pairou em cada palco do evento: a importância da conexão no trajeto para a inovação. Com painéis nacionais e internacionais liderados por grandes nomes, como o executivo Pedro Janot, a CEO da Associação Internacional de Parques Científicos e Áreas de Inovação (IASP), Ebba Lund, e o fundador da Uncork Capital, Jeff Clavier, foi mais um dia de troca de experiências e discussões sobre temas atuais na capital gaúcha. AMANHÃ apresenta novamente os principais destaques do evento.
Inovando ao redor do mundo
No palco principal, os parques tecnológicos ao redor do mundo foram destaque. Ebba Lund, CEO da Associação Internacional de Parques Científicos e Áreas de Inovação (IASP), defende que, em tempos de crise, quando as relações internacionais passam por estresse – como na pandemia, por exemplo –, é importante que plataformas e redes colaborativas sigam promovendo conexões. A IASP se propõe a isso, “e conta, inclusive, com membros brasileiros engajados a nível internacional na comunidade”, afirma Ebba, citando como exemplos o Tecnopuc, Tecnosinos, Feevale Techpark e Zenit UFRGS, de Porto Alegre (RS); o Tecnovates, do Vale do Taquari (RS); o Biopark, de Toledo (PR); e o Ágora Techpark, de Joinville (SC).
Dentro da associação, inclusive, os parques podem participar de grupos focais, com temas como espaço, agrifood, blockchain, distritos de inovação, sustentabilidade e mulheres na IASP. Mas, segundo Ebba, a participação na associação traz inúmeros outros benefícios aos parques, como a transferência de tecnologia e conhecimento; ajuda para criar e acelerar novas startups; maior potencial de atração de empresas; o desenvolvimento de comunidades holísticas de inovação; e uma rede de networking global para as empresas que já pertencem a cada parque. A CEO da IASP compartilhou dados valiosos sobre as comunidades de inovação ao redor do globo: 84,1% dos espaços de inovação, por exemplo, estão localizados em cidades e centros urbanos. Já 74,3% possuem planos de expansão; 84,1% também apoiam empresas de fora de sua comunidade de inovação e 69% possuem acordos com espaços de inovação em outros países.
Parceiros no risco
Juliano Prado, vice-presidente da Gerdau, e Daniel Ely, vice-presidente executivo e Chief Transformation Officer (CTO) das Empresas Randon, compartilharam como foi a consolidação da parceria que gerou a Addiante Full Rental Service, serviço de locação de veículos pesados e equipamentos. Com quatro meses no mercado, a Addiante já conta com cerca de 80 pontos no país, mais de 150 clientes, mais de 1700 ativos e mais de 300 veículos alugados. “Já estamos com a meta do ano batida”, celebra Fábio Leite, CEO da nova empresa, que, arrisca dizer, já é um sucesso.
Prado explica que a Gerdau vem seguindo um caminho de inovação nos últimos 13 anos, não somente cultural e digital, mas como um todo para se tornar verdadeiramente ambidestra.”Hoje, ela trabalha para crescer e alavancar seu negócio core do aço ao mesmo tempo em que alavanca novos negócios”, explica, usando como exemplo o lançamento da Gerdau Next em 2020. Segundo ele, o interesse da empresa na criação da Addiante foi reflexo da migração para o modelo de subscription pela qual o mundo vem passando. “A companhia já tem uma operadora multimodal de transportes, que é a G2L, que ano passado faturou R$ 1,3 bilhão e, esse ano, vai ter uma receita maior de R$ 1,5 bilhão. Isso mostra a força das grandes companhias ao se juntarem com empreendedores e startups para fazer grandes negócios”, defende.
Já Ely, da Randon, conta que a motivação de sua empresa foi perceber que “o ambiente de logística e transporte ainda tem tudo por fazer. O mar de oportunidades que existia na área financeira há alguns anos é a mesma que existe agora [no setor de logística]. Aqui também entra a nossa pegada social e de ESG, de querer entregar para esse setor um outro ambiente para se fazer negócios”, explica. A junção das duas empresas funcionou devido ao propósito compartilhado. E realmente já vem resolvendo problemas importantes do setor, como avalia Leite, CEO da Addiante. “Quando pensamos no mercado de locação, um carro tem IPVA, multa, seguro. Em pesados, essa conta se multiplica por dez. Os caminhões que estão andando pelo Brasil atualmente são antigos, já estão consumidos do ponto de vista de disponibilidade operacional. Por isso, muitos dos grandes players têm acessado as locadoras. Nossa ideia é olharmos a disponibilidade do ativo, sermos preditivos no apoio aos nossos clientes, no custo de mobilidade desse cliente, na segurança operacional e no treinamento para os operadores e motoristas”, afirma. A “empresa com espírito de startup” ainda se propõe a resolver outros problemas importantes: redução de custos para as companhias, serviço jurídico, manutenção preventiva, corretiva, preditiva, mobilização e desmobilização.
ODS no financiamento da inovação
Laetitia Dufay, diretora-geral da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), começou sua fala no painel sobre financiamento de inovação voltada à sustentabilidade – conduzido por Wilson Bley, diretor-presidente do BRDE –, ecoando o pensamento de, provavelmente, muitos dos presentes na plateia. “Não é natural para um banco público fazer a implementação de ODS [Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU]”, reconheceu, “mas estamos convencidos de que temos um papel a desempenhar nessa ação”. No caso da AFD, ela explica, isso é feito justamente ao financiar a inovação. “Assim, podemos transformar os modelos econômicos existentes para que se tornem melhores para os indivíduos e para o planeta”. Ela explica ainda que os bancos de desenvolvimento, por estarem no centro da inovação, são essenciais para esses novos desafios. As iniciativas que a AFD vem apoiando no Brasil em colaboração com o BRDE, por exemplo, incluem assistência técnica para a implementação de ferramentas de integração de informações e gerenciamento de serviços públicos e a valorização do lodo produzido nas estações de tratamento de esgoto.
Bruno Camargo, gerente regional Sul da Finep, também ressalta a relevância da inovação e tecnologia para resolver os desafios que existem com relação a questões sociais e ambientais de governança. “Temos diversas maneiras de apoiar isso e viemos fazendo por meio de recursos não reembolsáveis, crédito, financiamento via BRDE, que é o principal repassador de investimentos, justamente para resolver questões de mudanças climáticas, monitoramento de dados. Temos, por exemplo, o programa Finep Amazônia, estamos alocando milhões para projetos de economia lá, voltados a tecnologias assistivas, apoio a biogás, biofertilizantes, que aqui no Sul é uma questão muito importante para a sustentabilidade no agronegócio”, exemplifica.
Johanes Zutt, Brazil country director do The World Bank Group, complementa que falar sobre sustentabilidade remete aos próprios objetivos do Banco Mundial, que tem a missão de combater a pobreza e promover a prosperidade compartilhada, bem como alinhá-la aos ODS. Ele cita a criação de um relatório de políticas públicas para a nova administração do Brasil, cujo enfoque são quatro pilares principais: financiar o desenvolvimento de forma sustentável, incluindo com uma boa gestão fiscal; acelerar o crescimento econômico do país, mas baseado em produtividade mais alta, porque é somente dessa maneira que a economia pode criar empregos necessários para tirar os pobres permanentemente da pobreza; construir capacidade e fomentar a inclusão socioeconômica da população pobre, mulheres e indígenas, porque sem a participação de toda a sua população, o Brasil não se tornará um país de renda alta; e concretizar o potencial do Brasil como uma economia verde. “Acho que é óbvio que esses pilares não podem ser implementados a menos que o trabalho que fazemos para implementá-los também incorpore as ODS”, completa.
O fio condutor de todos os assuntos que passaram pelos palcos do evento foi a importância da conexão para gerar inovação