Em dois anos, empresa pula de 60 para 300 lojas com um ousado projeto de franquia da marca
Marisa Valério, colunista de AMANHÃ, viajou a convite da Chocolate Lugano
As famosas plaquinhas de chocolate com a inscrição “Lembrança de Gramado”, em letra cursiva, estarão em breve em cerca de 300 lojas em todo o país. E com uma particularidade: a frase terá sido escrita à mão, em cada uma, com um saquinho de confeitar cheio de chocolate branco, como se faz há quase 50 anos na fábrica da Chocolate Lugano, em Gramado. Esse é um dos principais aspectos do arrojado plano de expansão da marca gaúcha, que já é a maior produtora brasileira de chocolate artesanal: crescer aceleradamente sem abrir mão do toque humano em cada etapa do processo.
Com oito lojas próprias, 64 franqueadas e 225 contratos de franquia assinados, a Lugano se preparou para a expansão investindo em várias frentes: obras e novas máquinas na fábrica instalada em Gramado, pesquisa e desenvolvimento de produtos, e sobretudo treinamento e qualificação dos colaboradores nas linhas de produção e nas oito lojas próprias.
“Vamos sair de 60 para 300 lojas em dois anos. Estamos produzindo 60 toneladas por mês e aumentando o volume de produção sem perder a nossa essência, que é o chocolate de alta qualidade feito à mão. É o nosso diferencial”, diz o diretor de marketing Jonas Esteves.
Esse cuidado pode significar até três meses de treinamento para que os trabalhadores da fábrica aprendam a escrever com chocolate, usando todos a mesma letra arredondada e afetuosa. A Lugano se dá ao luxo de não usar moldes para pintar as mensagens de Natal, Páscoa e homenagens variadas, que enfeitam os chocolates. Mesmo em processos produtivos mais automatizados, as mãos humanas aparecem em laços de fita ou na aplicação de confeitos que parecem bordados.
Para além de Gramado
À frente da gestão da empresa desde 2018 – após um processo de sucessão iniciado em 2014 e feito todo dentro de casa -, o CEO Augusto Luz, da terceira geração da família, explica que a expansão da Chocolate Lugano foi acelerada pela pandemia da Covid-19. Ao buscar oportunidades na crise que fechou todas as lojas por vários meses e levou à redução de 60% do quadro de funcionários, a empresa resolveu abrir novos mercados.
“A ideia é não depender apenas da matriz econômica da região de Gramado, que representava 70 a 80 por cento do nosso faturamento”, diz Augusto. Com R$ 80 milhões de faturamento ao ano, ele pretende inverter a relação, trazendo essa fatia das unidades franqueadas – um modelo de negócio com investimentos de pelo menos R$ 460 mil do franqueado. As lojas somam cafeteria e chocolateria e têm faturamento médio mensal previsto de R$ 100 mil a R$ 300 mil.
O projeto de franqueamento da marca nasceu em 2018 e desenvolveu uma retaguardacompleta para os franqueados – que hoje recebem assistência em cada passo da jornada administrativa, de marketing e de vendas.
Augusto Luz conta que a crise trazida pela pandemia acabou por trazer investidores para a marca. “Muitas pessoas começaram a tirar o dinheiro dos bancos e a querer investir. E outras foram desligadas de seus empregos e resolveram empreender. Os anos de 2021 e 2022 foram marcados pela ascensão do franchise.”
Mercado americano
Outro projeto da Lugano decolou no período da pandemia: a internacionalização da marca. Ela vem sendo pensada desde 2015, com estudos de mercado, participação em feiras e busca de contatos. No ano passado foram fechados os primeiros contratos de exportação para os Estados Unidos. “A crescente do dólar e a dificuldade dos americanos de comprar da China nos favoreceram bastante”, lembra o CEO.
Mais de 1,3 milhão de caixinhas de trufas com a marca Lugano foram exportadas para o mercado americano, e outros produtos foram enviados no modelo white label, terceirizados para varejistas locais com a marca própria. Também foram feitas campanhas de Natal que já estão contratadas para este ano. A experiência deve se alargar para outros mercados, principalmente em países sul e centro americanos.
Outros negócios
Também em forte ritmo está a diversificação dentro do grupo. A operação de bebidas inclui vinhos e cervejas com a marca Lugano e já representa 20% do faturamento mensal. Eles são vendidos separadamente ou na composição de kits, presentes personalizados e venda para consumo nas lojas. As cervejas são produzidas em parceria com a Rasen Bier, empresa do grupo, e os vinhos são feitos em parceria com a vinícola gaúcha Lídio Carraro.
Na área de turismo, a Lugano inaugurou em 2015 o Mundo do Chocolate, uma área temática em que expõe centenas de esculturas feitas de chocolate. Em fevereiro do ano que vem esse ambiente vai dar lugar a uma nova atração para os turistas que lotam Gramado o ano todo. O Parque do Luguito, que também aproveita a popularidade do mascote da marca – um urso vestido a rigor – , terá cinco mil metros quadrados de experiências e diversão, incluindo uma mini fábrica da Lugano em que o visitante poderá personalizar uma barra de chocolate com as próprias mãos.
Uma nova loja na famosa Rua Torta também vai atender os turistas que lotam a ruazinha para tirar fotos e fazer vídeos.
Avenida Paulista e Corcovado dão grande visibilidade à grife Lugano
Marca líder em chocolates finos do Brasil, a Lugano inaugurou em março uma loja conceito no complexo do Corcovado, no Rio de Janeiro. A unidade está instalada na área de embarque do trem que leva os visitantes ao Cristo Redentor pela Estrada de Ferro, o passeio turístico mais antigo do país. O prédio é tombado e o espaço Lugano tem 70 metros quadrados de área interna e externa. O investimento de R$ 1,5 milhão foi feito pela própria empresa e dá projeção internacional para a marca, oferecendo aos turistas mais de 500 produtos com diferentes tipos de chocolates , cafés, licores, cervejas artesanais e uma pequena cafeteria. O Rio já tem outras oito lojas Lugano.
Em abril, R$ 2,5 milhões foram aplicados para inaugurar, em tempo para as vendas da Páscoa, a terceira loja na capital paulista, a nona no estado de São Paulo. Considerada a maior loja da Lugano fora de Gramado, a flagship store fica no Conjunto Nacional, conhecido como o primeiro shopping center da América Latina, inaugurado em 1958. Localizado na mais paulistana das avenidas, o novo endereço projeta a marca em um dos metros quadrados mais caros do país.
Assim como em Gramado, onde estão as primeiras lojas, e que fornecem o modelo para as demais, sejam próprias ou franqueadas, a unidade paulistana tem a presença do Luguito – nome da carismática mascote da Lugano – e o espaço Le Chef, ambiente que permite a produção de chocolate personalizado, aos olhos do cliente. O consumidor escolhe os sabores e os ingredientes do seu chocolate (são várias opções entre frutas secas, cereais, grãos, chocolate branco, preto ou 70% cacau), acompanha o preparo das chamadas “gotas personalizadas” e as saboreia sem pressa, acompanhado de um expresso ou capuccino no ambiente de cafeteria integrado à loja, com opções de salgados e bolos.
Cacau da floresta
Fundada no ano de 1976 em Gramado, a Lugano tem seu nome inspirado na cidade suíça de mesmo nome, localizada na fronteira com a Itália. Mas o chocolate segue uma receita bem brasileira, feita para despertar o paladar e oferecer a melhor experiência sensorial. Grande produtor de cacau, o Brasil é o único fornecedor da Lugano, que compra a matéria prima de alta qualidade produzida no Pará, em plena floresta amazônica.
O cacau plantado à sombra das árvores recebe menor incidência de sol e maior umidade, o que resulta em um fruto de alta qualidade. A colheita é basicamente manual, já que não é possível usar máquinas. O cuidado com a matéria prima se estende para todas as etapas da produção, incluindo o processo de torra, feito a 120 graus. “O ponto de torra não é muito alto porque, como no café, isso conserva todo o aroma da semente e preserva mais os antioxidantes”, explica Francisco Marcon, gerente da fábrica.
Feita a torra, o cacau segue para a moagem, onde se obtém o líquor, o produto que se transforma em cacau e manteiga de cacau. São esses ingredientes, que juntamente com o leite em pó e o açúcar vão compor a receita dos chocolates Lugano. “A legislação brasileira pede 25% de cacau na composição para considerar o chocolate como puro. Mas aqui na Lugano nós usamos 36% de cacau na composição de chocolate ao leite. Estamos acima inclusive do que prevê a legislação europeia, que pede 35%. No chocolate branco temos 32%, quando a lei exige 19%”, conta Marcon.
Clique aqui e assista a matéria completa em AMANHÃ TV da visita da colunista à fábrica.
Em dois anos, empresa pula de 60 para 300 lojas com um ousado projeto de franquia da marca