China: na dúvida, visite somente em 2023

As restrições continuarão severas ainda por um bom tempo, pois a política do governo em relação à pandemia é de tolerância zero

O jogo tem de ser duro, porque a movimentação total de pessoas na Ásia é contada na casa da centena de milhões

O tempo passou rápido: em maio do próximo ano, a minha primeira viagem à China completará 25 anos. Do jeito que a pandemia continua, lá e cá, desconfio que não será possível comemorar esse aniversário como planejei: em Shanghai, visitando o Salão da Alimentação, de 18 a 20 de maio, com uma comitiva de cooperativistas de várias regiões do Brasil, interessados em vender alimentos para nichos de mercado e em atrair investimentos para aumentar a produção. Isso porque desanima ter de ficar em quarentena na entrada no país, preso em um quarto de hotel durante duas semanas, antes de poder circular para fazer o trabalho que nos move até lá.

Tudo indica que as restrições continuarão severas ainda por um bom tempo na China, pois a política do governo em relação à pandemia é de tolerância zero. Poucos dias depois do anúncio repentino de “lockdown” na Holanda, foi fechada na China a cidade histórica de Xi’an, a maior atração turística da região norte do país, população equivalente à da cidade de São Paulo, por confirmação de duas centenas de casos de Covid no início de dezembro.

O jogo tem de ser duro, porque a movimentação total de pessoas na Ásia é contada na casa da centena de milhões – o que parece uma loucura, mas que não representa muito, em relação à população total do continente, hoje estimados 4,7 bilhões de habitantes. E a China quer realizar os Jogos Olímpicos de Inverno no ano que vem, de 4 a 20 de fevereiro, em Beijing e cidades próximas, com a mesma eficiência, ou até mais, dos Jogos Olímpicos de 2008.

Traduzindo: talvez a situação só esteja realmente “normal” daqui a um ano, no próximo inverno, em novembro/dezembro de 2022, quando ocorrerão as feiras de Alimentação e Hospitalidade, a de Importação (Shanghai), e a de Investimentos no Exterior (Beijing). Aí, se houver dificuldade, será apenas do lado brasileiro, porque algumas pessoas se recusam a viajar para a China nessa época por causa do frio – que nem é tão intenso em Shanghai. Em Beijing costuma nevar em novembro, o que dá à cidade um toque especial de encanto em seus belos prédios históricos, compensando ter de andar nas ruas com temperaturas abaixo de zero.

Além de escapar da quarentena, outra vantagem de adiar a ida à China para novembro é que o pessoal terá mais tempo para elaborar os projetos e traduzir tudo para o chinês, porque buscar investimentos sem ter o que mostrar “no papel” é pura perda de tempo e gasto de dinheiro à toa. E acontece: lembro-me do caso de um secretário estadual de transportes, que foi a Beijing em 2009, para reuniões com gente importante, e ainda no aeroporto, quando pedi a ele que me passasse os projetos que levara para eu providenciar a tradução para o chinês, ele respondeu “está tudo aqui” (apontando para a sua cabeça). Estavam na fase ainda de “grandes ideias”, os projetos para os quais ele pretendia conseguir investimento de centenas de milhões de dólares, em parcerias público-privado (PPP) com empresas chinesas. Situações assim são impensáveis em qualquer época, é verdade, mas o fato aconteceu.

Na dúvida, o jeito é trabalhar com a perspectiva de ir à China somente em 2023, seguindo ainda no virtual durante o próximo ano, infelizmente. Afinal, “a paciência é uma virtude”, dizem os chineses.

As restrições continuarão severas ainda por um bom tempo, pois a política do governo em relação à pandemia é de tolerância zero

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