Do ponto de vista da inovação científica e tecnológica, a China já definiu como quer estar em 2050, em seu plano para o setor
Título estranho, questão impertinente: daqui a 25 anos, como estarão a China e o Brasil? Em educação, saúde, alimentação, envelhecimento populacional, infraestrutura, desenvolvimento econômico, desigualdade social, preservação ambiental, desenvolvimento científico, tecnológico e em inovação – aspectos decisivos para se comparar a qualidade de vida nos países.
Essa curiosidade, estilo “de volta para o futuro”, surgiu agora porque dia 6 de julho completou 25 anos a publicação da minha primeira matéria sobre a China, no jornal Diário Catarinense, com a manchete “China dobra volume econômico”, na qual informava que, em 1996, o PIB do país alcançara US$ 2,4 trilhões, e naquele ano a produção de grãos atingira 470 milhões de toneladas e a importação 15 milhões de toneladas. E em outro 6 de julho (de 1988) foi assinado o Cbers, convênio de satélites e foguetes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), bastante produtivo e ainda em vigor.
Essa parceria com a China na área espacial permitiu ao Brasil grandes avanços científicos, tecnológicos, em inovação, preservação ambiental, desenvolvimento agropecuário, e no conhecimento e utilização de recursos naturais, graças às imagens geradas pelos satélites do INPE, colocados em órbitas por foguetes chineses – o mais recente ocorreu em 2019, em Taiyuan, na província de Shanxi.
Nesses 25 anos desde a primeira vez que fui lá, o acelerado desenvolvimento chinês em todas as áreas virou notícia várias vezes por dia, e a China, que até 1997 não aparecia entre os dez países maiores importadores do Brasil (comprava menos de 2% do que era exportado), passou em 2009 a maior comprador de produtos agropecuários e maior parceiro comercial do país.
Mas a análise “qualitativa” do comércio entre os dois países revela que, infelizmente, ainda estamos longe do equilíbrio tecnológico necessário ao desenvolvimento industrial brasileiro.
Caminhando para 50 anos de relações diplomáticas (em 2024), raras cidades e estados do Brasil mantêm relação institucional efetiva com seus equivalentes chineses, e na área acadêmica e de institutos federais não é muito melhor – há pouquíssimos estudantes e professores brasileiros na China e chineses no Brasil, em comparação com os Estados Unidos, por exemplo. Preconceito, burocracia, falta de visão estratégica, solução de continuidade, inoperância… tudo conspira para distanciar cada vez mais o desenvolvimento brasileiro do desenvolvimento chinês.
Quando a China conseguiu que os Estados Unidos acabassem com o bloqueio contra o país, em fevereiro de 1979, ela o fez através de um convênio de cooperação em educação, enviando estudantes para fazer pós-graduação. Desde então, a China enviou mais de três milhões de estudantes para os Estados Unidos, de um total superior a cinco milhões de chineses que foram estudar no exterior. Quase quatro milhões de mestres e doutores voltaram para a China nos últimos 25 anos, muitos com vários anos de trabalho nos países onde estudaram e sabendo duas a três línguas.
O Brasil precisa muito ter mais convênios com a China como o Cbers, em todas as áreas do conhecimento, e buscar com urgência cooperação nas duas áreas identificadas como principais fatores limitantes à competitividade brasileira pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), em estudo realizado anualmente desde 2010: acesso e custo do capital e infraestrutura de transportes – ferrovias.
É muito difícil imaginar como estarão os dois países em 2047. Do ponto de vista da inovação científica e tecnológica, a China já definiu como quer estar em 2050, em seu plano para o setor, aprovado em 2015 e em andamento na velocidade conhecida – ou mais, agora com 5G e quetais. Nesse plano, a etapa “Made in China 2025” será um susto e tanto para o mundo. Até 2035, a China terá toda a sua indústria (e o agro) no patamar “4.0”. E com a “Iniciativa Cinturão e Rota” (da qual o Brasil não faz parte), o país atingirá nível de conectividade mundial impensável hoje.
Como sonhar não custa, sigo acreditando que chegarei em 2048 ainda escrevendo, conforme previu em 2010 um simpático monge budista no interior da província de Sichuan.
Do ponto de vista da inovação científica e tecnológica, a China já definiu como quer estar em 2050, em seu plano para o setor