Adeus, don Mario

Meu último post sobre Mario Vargas Llosa, falecido neste domingo

Tanto quanto o escritor, o pensador que é Mario nos aproxima ainda mais

Madrid, Natal de 2024

1 – Uns dizem que ele já se foi para o Peru e que não pretende mais morar aqui em Madrid. Outros dizem que isso se deve a problemas com o Fisco espanhol, que arranja encrenca com todo mundo que faz algum sucesso. Seja como for, eu gostaria de ter uma hora de conversa com Vargas Llosa antes que isso se torne impossível. Perdi umas chances; não queria perder a derradeira.

2 – Há mais de meio século que leio tudo o que ele escreve. Em certa medida, o tenho como maior do que Garcia Márquez. Percebi o quanto ele havia me marcado quando fui ao Peru pela primeira vez, em 1982. Quando cheguei a Lima, como por encanto, eu estava em casa: Miraflores, San Isidro e a Avenida Colmena eram uma extensão do meu mundo.

3 – Tanto quanto o escritor, o pensador que é Mario nos aproxima ainda mais. Desde sua malograda candidatura a Presidente do Peru, acompanho com fascínio como sua trajetória me influenciou e, em certa medida, se aproxima à minha na defesa de um credo marcadamente liberal na economia. À esquerda da direita e à direita da esquerda, estamos longe de ser neutros. 

4 – Acho ultrajante que a morte vá levá-lo qualquer hora dessas, se é que não me levará antes dele. Como pode um homem de tanto gabarito, um pensador tão lucido e um escritor de tantos recursos se despedir da vida como o mais comum dos mortais? Por vivo que permaneça em nossas memórias, a velhice de um sujeito que se cuidou muito desfere o recado inexorável da finitude.

5 – Nesta Madrid domingueira, de “puchero” e charuto, de vinho e recolhimento, penso nele e me acomete uma vontade irrefreável de reler alguns dos seus livros todos uma espécie de clássicos. Vida longa a Don Mario, ao Marito de “Tia Julia e o Escrevinhador”. Tentei falar com Álvaro, filho dele, um homem culto, divertido e irreverente, mas não tive sucesso. Se quem me lê é amigo dele, avise. É bem verdade que gente do quilate dele, não morre nunca. 

6 – Adeus, don Mario.

Meu último post sobre Mario Vargas Llosa, falecido neste domingo

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