Foram necessárias duas décadas para a China começar a crescer quase 10% ao ano
O ex-secretário norte-americano Henry Kissinger, em seu livro “On China”, lançado em 2011, relata em detalhes a sua versão não apenas do encontro dos presidentes Nixon, dos Estados Unidos, e Mao Tsé-Tung, da China, em 21 de fevereiro de 1972, mas também dos fatos que o antecederam – principalmente relacionados à derrota militar e política iminente dos Estados Unidos no Vietnã – e do que ocorreu depois, como consequência desse evento histórico.
Era comum nos anos 1960 a utilização do termo “Cortina de Bambu” para referir-se ao fato da China estar “fechada para o mundo”, o que era uma meia-verdade, ou uma “cortina de fumaça”, como se dizia na época, porque o que havia realmente era bloqueio total do país pelos Estados Unidos – que só foi levantado em fevereiro de 1979, no governo Carter.
Participante ativo dos fatos, Kissinger incidiu diretamente no que ocorreu e deixou de ocorrer. Por isso, traz informações surpreendentes em seu livro, sobre a real motivação norte-americana (e chinesa) para a aproximação dos dois países, assim como o sigilo das suas visitas iniciais à China, e as primeiras conversas com Zhou Enlai, o ministro das Relações Exteriores.
Completa agora 50 anos o encontro famoso, mas a sua preparação consumiu quase dois anos de idas e vindas, que exigiram do presidente e do vice Gerald Ford (que assumiu a presidência após a renúncia de Nixon, em agosto de 1974) convencer os “falcões” da política norte-americana, contrários à aproximação com a China e ao levantamento do bloqueio contra o país.
Foram precisos 20 anos, após o encontro de Nixon e Mao, para a China se acertar internamente e começar a crescer quase 10% ao ano. E agora, 30 anos depois desse “start” real, a economia chinesa se ombreia com a norte-americana, pela paridade cambial (pela paridade do poder de compra ela já seria a maior desde 2017), e a disputa entre os dois países se espraia para todos os campos, dos esportes olímpicos às inovações tecnológicas e científicas – com destaque para a exploração espacial.
Lembrar de tudo isso nos remete à conectividade mundial proposta e efetivada pela China a partir de 2015, com a “Iniciativa do Cinturão e Rota” (BRI, na sigla em inglês), à evolução do país nesses 50 anos, e aos impactos que a sua atuação comercial, econômica e diplomática tem produzido em todos os países, em especial no Brasil. Quem quiser entender melhor a situação comercial do Brasil em relação à China, deve “esquecer” por um momento o recorde de US$ 125 bilhões da balança comercial, em 2021, e pesquisar sobre a “qualidade” das exportações e importações, para o que ajuda bastante ler a Carta nº 1122 do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), de 07/01/2022, e as publicações recentes de outras entidades, com análises sobre investimentos, o risco da enorme expansão da área de soja para atender basicamente o mercado chinês e o que poderá ocorrer nas exportações de produtos primários para a China nos próximos anos.
Enquanto isso, o Brasil deixa de tomar a iniciativa de propor o que nos interessa em um novo acordo 2022-2031, renovando os acordos com a China, estabelecidos nos últimos anos – o Plano de Ação Conjunta, de 2010, o Plano Decenal, de 2012, e o Plano de Ação Conjunta 2015-2021.
Foram necessárias duas décadas para a China começar a crescer quase 10% ao ano