Maior queda foi no mercado interno
Para a Taurus, os resultados alcançados ao final do segundo trimestre do ano estão em linha com as expectativas para o período, considerando a atual conjuntura do mercado. No Brasil, os setores de serviços e indústria permaneceram relativamente estagnados. De acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a utilização da capacidade instalada industrial no país em junho foi a mais baixa para o mês nos últimos três anos (69%). Os principais obstáculos enfrentados de abril a junho, de acordo com a pesquisa, foram a baixa demanda interna, a elevada pressão fiscal e as altas taxas de juros.
No setor de armas, a empresa cita o fato da insegurança jurídica que perdurou por todo o primeiro semestre, uma vez que o novo decreto, previsto para o primeiro quadrimestre, foi publicado apenas em 21 de julho. Essa incerteza paralisou o mercado, com consumidores e lojistas interrompendo suas compras até que a questão jurídica fosse definida. Por isso a redução da margem bruta no primeiro semestre do ano está em parte relacionada à falta de vendas pela insegurança jurídica. Com isso, a receita da companhia foi de R$ 470, 3 milhões entre abril e junho, uma queda de 24,8%, puxada pelo mercado interno. O luro no primeiro trimestre também retrocedeu (veja os principais números na tabela ao final desta reportagem). Por outro lado, o canal de distribuição nacional começou julho totalmente desabastecido, o que representa uma oportunidade para atender essa demanda nos próximos meses.
Com a publicação do novo decreto e sua regulamentação, a Taurus agora retoma seu planejamento estratégico considerando as novas diretrizes estabelecidas, principalmente no que diz respeito aos calibres permitidos. Há uma grande oportunidade de desenvolvimento de novos produtos, onde a Taurus tem ampla vantagem em virtude de contar com a atuação do Centro Integrado de Tecnologia e Engenharia Brasil/EUA (Cite), que proporciona criatividade e agilidade para oferecer ao mercado brasileiro produtos inovadores, observando os limites. A companhia também afirma estar trabalhando forte em um novo calibre de pistolas, tendo como limite máximo de energia 407 joules, estabelecido pelo novo decreto.
Foco no desenvolvimento
A companhia desenvolveu também o projeto grafeno com o uso desse material na composição de peças injetadas que proporciona maior resistência e durabilidade às armas. Além de agregar valor aos produtos e aumentar a percepção do cliente em relação à marca Taurus, os investimentos em novas tecnologias agregam valor ao Brasil, que possui as maiores reservas de nióbio e a segunda maior reserva de grafite do mundo. Mesmo em meio à turbulência, a empresa seguiu investindo em modernização e em pesquisa e desenvolvimento. Na primeira semana de agosto, a Taurus participou como patrocinadora e expositora da “Shot Fair”, maior evento da América Latina no segmento, onde lançou com exclusividade 20 armas, entre pistolas e revólveres, algumas dessas já considerando os limites impostos pela nova legislação. Apresentou também ao mercado produtos que agregam valor à marca, com destaque para a “Cutelaria Taurus”, uma linha premium de facas “custom”. Mantendo o DNA de inovação da companhia, faz parte da linha a primeira faca no mundo com grafeno.
Na área industrial, a Taurus já tem uma linha robotizada em funcionamento, proporcionando maior eficiência e agilidade no processo e, consequentemente, menor custo. Outro investimento em maquinário de última geração realizado foi no novo forno de M.I.M. (metal injection molding), que combina maior capacidade produtiva com melhor eficiência de processamento, permitindo a fabricação de peças complexas. A partir da entrada em operação desse equipamento, oportunidades de negócios poderão ser criadas para a companhia nesse segmento, uma vez que terá capacidade produtiva disponível.
Expansão internacional
O mercado norte-americano, onde a Taurus também tem forte atuação, retomou um padrão de normalidade após ter atingido níveis sem precedentes nos anos de 2020 e 2021. No segundo trimestre de 2023, o Adjusted NICS (National Instant Criminal Background System) registrou 3,6 milhões de consultas de pessoas interessadas em adquirir uma arma no país, somando 7,8 milhões no semestre. Esses patamares são superiores a iguais períodos do ano de 2019 em 29,2% na avaliação trimestral e 25,3% considerando o acumulado do primeiro semestre. A perspectiva para o segundo semestre nos EUA é positiva, considerando que, tradicionalmente, a segunda metade do ano tem maior sazonalidade de vendas, dado o início do período de caça, além das vendas de “Black Friday” e Natal.
Para a Taurus, nos EUA, as vendas até junho superaram os volumes do primeiro semestre de 2019, período anterior à pandemia. No segundo trimestre de 2023, a receita de armas e acessórios nesse país foi 97,2% maior do que o registrado no segundo trimestre de 2019 e já se igualou ao apurado no segundo trimestre de 2022, compensando a perda de receita em reais devido à valorização da moeda brasileira em relação ao dólar de 26,3% ante o segundo trimestre de 2019 e de 4,8% em relação ao mesmo período de 2022, considerando a cotação média dos períodos. O mix de vendas contribuiu fortemente para esse resultado. A estratégia comercial da companhia também segue focada em oportunidades além dos EUA. Hoje, a Taurus tem mapeados mais de US$ 80 milhões em negócios potenciais ao redor do mundo, com destaque para o Oriente Médio e África. Adicionalmente, por meio da JD Taurus, está explorando oportunidades comerciais na Índia, onde está em andamento licitação de 425 mil fuzis, além de outras licitações de menor volume a nível das forças policiais e paramilitares que, no médio prazo, envolvem negócios estimados em mais de US$ 30 milhões.
Maior queda foi no mercado interno