E se os negócios não fossem comparados apenas a esportes e guerras?
É assim, meio se desculpando, que o ex-treinador de futebol Alex Ferguson trata de uma possível utilização de seu livro, “Liderança”, no meio executivo. A obra, curiosamente catalogada como “Administração, Negócios & Economia” por sua editora brasileira, oferece tão somente “observações sobre como buscar a excelência”, segundo o modesto autor. Mas por que está na prateleira de business, a despeito das ressalvas do mister?
Porque o esporte é uma metáfora fácil para o dia a dia empresarial. Depende de trabalho em equipe, compartilhamento de objetivos e, principalmente, enfrentamento de concorrência acirrada. E é em boa medida a disposição em bater os competidores que torna técnicos e atletas requisitados para depoimentos. É, também, o que faz da guerra outra imagem comum no mundo corporativo. José Galló lembra em sua autobiografia profissional que, numa convenção de vendas da Renner, a C&A era o navio a ser afundado na “batalha naval” pelo mercado de vestuário. E o Le Monde Diplomatique Brasil registra, em sua edição de outubro do ano passado, que 60 oficiais generais saíram do exército francês entre 2018 e 2021 para integrar ou criar empresas de consultoria gerencial.
Porém, negócios “não são tão parecidos com guerras ou esportes, nos quais o sucesso de uma empresa depende do fracasso da outra. (…) Uma melhor analogia seriam as artes performáticas. Pode haver muitos bons cantores ou atores – cada um excelente e bem-sucedido de um jeito diferente. Cada um encontra e cria um público”. Ou seja, não seria preciso buscar o pódio (ou a rendição do inimigo), simplesmente porque nem um, nem outro existe.
Metáforas são úteis para transmitir e disseminar cultura organizacional, estratégias corporativas e planos de ação por se valerem de imagens populares e de fácil compreensão. São mais poderosas para mobilizar equipes do que abstrações em PowerPoints. Porém, antes disso, são a base do pensamento humano. Mais do que ilustrar assuntos, podem ter o papel de ajudar a compreendê-los. Quem vê o seu negócio sob o prisma da disputa, seja ela esportiva ou militar, tende a compreender o mercado como um jogo de soma-zero, em que só há um jeito de crescer: conquistando clientes da concorrência. Vê-lo sob o ângulo das artes ou da biologia, por outro lado, abre perspectivas mais diversas: de interdependência, colaboração, inspiração, coexistência. Superior à visão concorrencial? Não necessariamente. Mais apropriada para determinados cenários e circunstância? Provavelmente sim.
Curiosamente, um dos principais autores e palestrantes da administração do século passado não cultivava qualquer credencial esportiva ou militar. Era um senhor engravatado e de óculos grandes, cujo manancial de conhecimentos ia dos negócios à medicina, da política à sociologia, da educação ao comportamento. Tido como “ecologista social” ou “renascentista”, era exatamente isso que se depreende dessas duas expressões: um eclético. E dizia que o objetivo de uma empresa deve ser criar valor para os clientes – e não superar concorrentes, obrigatoriamente.
Seu nome? Peter Drucker.
E se os negócios não fossem comparados apenas a esportes e guerras?