Quanto tempo dura uma alegria?
Se a tese do norte-americano Phil Stutz estiver certa, é possível que Fernanda Torres tenha vivido num “universo paralelo” de euforia desde o domingo (5), em que ganhou o Globo de Ouro, até a quinta-feira seguinte, dia 9. A partir de então, as coisas voltaram ao normal para a atriz brasileira, que ainda terá um “chorinho” de contentamento ao retornar ao país para uma provável rodada de homenagens e festejos entre os seus (e para o assédio de uma penca de aproveitadores, claro).
Esclarecendo: Stutz é psicólogo em Los Angeles e tratou, ao longo de 40 anos, algumas das maiores estrelas de Hollywood. Segundo ele, casos recorrentes entre seus pacientes comprovam que a alegria de vencer um Oscar dura 96 horas. Passados quatro dias, lamentavelmente, a vida sucks again (mais aqui, aqui e aqui).
Donde alguém poderia questionar: se satisfações duram tão pouco, por que esforçar-se para obtê-las?
Bem, porque fomos biologicamente programados para desejar. E para que a intensidade desse desejo seja superior ao regozijo derivado da realização, garantindo que um objetivo seja substituído por outro logo em seguida e a vida se mantenha em eterno movimento.
Prêmios, especificamente, são motivações extrínsecas a qualquer atividade, assim como o dinheiro e a fama. E não costumam ser as únicas, nem sequer as mais importantes. Há outras, estabelecidas pelo próprio indivíduo, tão relevantes quanto. No caso de um filme, atuar bem, estar à altura de uma personagem histórica, sentir-se contribuindo para uma obra coletiva ou desfrutar da companhia de colegas de elenco e produção são exemplos de motivações intrínsecas. Pela qualidade do trabalho que executou, é muito provável que Fernanda tenha gabaritado todas elas.
Depois de um certo tempo, o que foi uma explosão de alegria e de novidades para a atriz — o anúncio do nome, a caminhada até o palco, o discurso, a festa, o contato com estrelas a quem só via pela telinha e pela telona, as dezenas de cumprimentos — vai sendo acomodada na memória e garantindo doses homeopáticas de alegria quando recordada. Mas será incapaz de fazer girar novamente a roda da motivação, inclusive porque premiações são incertas, um tanto lotéricas, até — Demi Moore foi ganhar a primeira com mais de 40 anos de carreira.
Disso não se conclua que ganhar ou perder uma estatueta dê no mesmo. Se o desfrute da vitória é efêmero, a ruminação da derrota pode ser eterna — como deixou claro a própria Fernandinha ao dedicar o prêmio à mãe, a quem considerou injustamente preterida 26 anos atrás no mesmo Golden Globe e no Oscar.
Quanto tempo dura uma alegria?