Piora no crédito reduz intenção de consumo das famílias

Índice recua mais entre famílias de maior renda

O crédito deve se tornar ainda mais restrito, o que impacta diretamente o consumo

A Intenção de Consumo das Famílias (ICF), calculada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), diminuiu 0,6% em outubro, marcando o quarto mês seguido de retração. A principal causa foi a visão negativa sobre o momento para adquirir bens duráveis, com queda de 1,8%, além da percepção do nível de consumo atual, que caiu 1,2%. Apesar disso, o índice se mantém acima do nível de satisfação, com 103,2 pontos, o menor valor desde março, quando alcançou 104,1 pontos. A desaceleração econômica, o aumento da Selic e o encarecimento do crédito têm enfraquecido o consumo, especialmente entre as famílias de maior renda.

Quase todos os componentes da ICF apresentaram queda, exceto a perspectiva profissional, que permaneceu inalterada. A percepção sobre a renda atual, embora tenha tido uma leve queda de 0,6% no mês, ainda registra crescimento anual de 3,7%. “Os consumidores estão cada vez mais cautelosos em relação ao futuro. Com a Selic em alta e possivelmente subindo ainda mais, além da pressão inflacionária em alguns setores, o crédito deve se tornar ainda mais restrito, o que impacta diretamente o consumo”, comenta José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac. Essa conjuntura levou a uma redução de 0,9% no subindicador de acesso ao crédito, marcando o segundo mês consecutivo de retração. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), também conduzida pela CNC, indica que o nível de endividamento das famílias permanece elevado, afetando de forma mais expressiva a intenção de consumo, especialmente de bens duráveis, que recuou 1,8% em outubro.

A análise por faixas de renda revela que as famílias com ganhos superiores a dez salários mínimos registraram uma redução de 1% na intenção de consumo, enquanto aquelas com renda inferior a esse valor apresentaram uma queda menor, de 0,8%. A perspectiva de consumo entre os mais ricos caiu 1,5%, refletindo os impactos do cenário econômico e do aumento do custo de crédito. Em comparação, para as famílias de menor renda, a perspectiva recuou 0,5%. Quanto ao momento para compra de bens duráveis, a retração foi mais pronunciada entre as famílias de maior renda, com queda de 2,7%, enquanto as de menor renda registraram uma redução de 1,6%. Isso reflete a maior cautela das famílias mais abastadas, que são mais sensíveis às mudanças das condições de crédito e ao ambiente econômico instável. “As famílias com maior renda estão mais cautelosas, especialmente em relação ao crédito para bens duráveis. Com a perspectiva de novas elevações da Selic, a tendência é uma retração ainda mais acentuada nesse setor”, ressalta Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.

Índice recua mais entre famílias de maior renda

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