Ou seriam os consumidores excessivamente sensíveis?
Exercitar-se e aprender um idioma estão entre suas resoluções para 2025? Entre as suas e as de meio mundo, pode ter certeza. E saiba que o problema maior nem será iniciar as duas atividades, matriculando-se numa academia ou num curso de línguas, e sim perseverar.
Daí que empreendimentos dedicados a esses ramos tenham de ser muito proativos na retenção de seus clientes. A ponto de, às vezes – perdão pelo trocadilho –, passarem do ponto.
É do que se queixam usuários do Duolingo, um aplicativo mundial de ensino de idiomas, e a frequentadora de uma rede brasileira de academias cujo nome não foi revelado. Os primeiros denunciam um suposto tom “passivo-agressivo” em mensagens que irrompem na tela lembrando os inscritos de que não têm acessado o app (“faz tempo que não te vemos”). A segunda queixa-se de um e-mail fazê-la se sentir “uma fracassada” em seu objetivo de emagrecer (“faz 10 dias que não te vemos na academia. Para atingir os resultados dos seus treinos é preciso persistir”).
Há razão nas reclamações? Estaríamos diante de uma espécie de “marketing da culpa”?
Quanto à primeira pergunta, não acredito que a forma pela qual as empresas se dirigiram aos clientes tenha sido desrespeitosa, agressiva ou insultuosa. Se alguém me apresentasse os textos reproduzidos acima, eu os aprovaria sem ressalvas.
Quanto à segunda questão, há de se lembrar que motivações e inseguranças humanas são a matéria-prima de qualquer obra – artística ou comercial. A propaganda se apropria de várias delas, sempre por meio de recursos estilísticos, para consagrar o produto como a resposta para um desejo ou um temor. Assim, beber cerveja ou assinar TV a cabo passaram a ser vendidos como inserção em grupos (“ser brahmeiro é ser guerreiro”; “venha para o mundo dos nets”); desodorantes, como prevenção à rejeição; e cursos profissionais, como sinônimo de ascensão social (um antigo anúncio da ESPM mostrava duas imagens: uma estação de esqui e uma sala de aula, acompanhadas respectivamente pelas frases: “você não vai passar as férias aqui…se não passar as férias aqui”).
Assim, os episódios da Duolingo e da academia revelam mais sobre o consumidor atual, disposto a fazer barulho quando algo o desagrada, do que qualquer abuso na linguagem mercadológica. Vigora, hoje, o que especialistas chamam de uma “epidemia de drama” circulando pelo ambiente virtual: reações exageradas a coisas relativamente banais que antigamente passariam despercebidas.
O que dá margem a uma sugestão: tornar-se menos sensível às miudezas do mundo pode ser uma boa resolução de ano novo. Se malhar ou aprender inglês não forem adiante, cumprir com este objetivo já terá valido 2025.
Feliz ano novo.
Ou seriam os consumidores excessivamente sensíveis?