Número de famílias endividadas cai e inadimplência aumenta em 2024

Brasileiros que não conseguem pagar dívidas atinge patamar mais alto da série histórica

A redução do endividamento pode ser atribuída à maior cautela dos brasileiros diante do cenário econômico com elevação da taxa Selic e da inflação

Pela segunda vez consecutiva, menos famílias brasileiras fecharam o ano endividadas. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), teve queda de 0,9 ponto percentual em dezembro de 2024, na comparação com dezembro de 2023, saindo de 77,6% para 76,7%. O estudo revelou, no entanto, que a inadimplência aumentou no último mês de 2024, com 29,3% das famílias com dívidas em atraso ante os 28,8% do dezembro anterior. Aquelas que não conseguem quitar o que devem chegaram ao patamar de 13%, o maior da série histórica. 

A redução do endividamento pode ser atribuída à maior cautela dos brasileiros diante do cenário econômico com elevação da taxa Selic e da inflação, o que dificulta o acesso e aumenta o custo do crédito. “A inadimplência é um reflexo do impacto desproporcional desses fatores sobre as famílias de baixa renda, que enfrentam juros elevados e renda limitada para absorver o aumento dos preços. É fundamental promover um ambiente econômico estável e políticas que ampliem a capacidade de consumo”, avalia o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros. A pesquisa ainda registrou o menor nível de comprometimento médio da renda desde 2019: 29,8% do total dos ganhos familiares. Já o prazo médio para a quitação subiu para 7,4 meses, o que demonstra uma busca por melhores condições de pagamento. Em 2023, o tempo médio registrado foi de 6,9 meses.

As famílias com renda de até três salários mínimos são as mais afetadas pelo endividamento e pela inadimplência. Essa parcela da população sofre mais com o alto custo de vida. O estudo mostra que 80,5% apresentaram dívidas em 2024, sendo o grupo mais dependente do crédito para manter o padrão de consumo. Já a proporção dos núcleos familiares que destinam mais de 50% da renda ao pagamento de dívidas caiu para 20,6% (em 2023, era de 20,7%). “Os dados mostram que, embora o endividamento tenha se tornado mais sustentável em termos de renda comprometida e prazo, a alta dos juros e o encarecimento do crédito dificultaram a gestão financeira das famílias. É necessário reforçar a educação financeira e implementar políticas de renegociação de dívidas bem estruturadas”, explica Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.

O estudo concluiu que a inadimplência deve ser observada com cautela em 2025, dado que o Brasil possui uma renda per capita baixa e os juros cobrados ao consumidor são elevados. A conjuntura econômica instável, marcada por juros altos e inflação persistente, exige atenção para a gestão das finanças pessoais.

Brasileiros que não conseguem pagar dívidas atinge patamar mais alto da série histórica

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