Indústria cervejeira ganha corpo no Paraná

Cadeia do setor investiu R$ 5 bilhões no estado desde 2020

A Heineken, que tinha anunciado um aporte inicial de R$ 865 milhões, acabou investindo R$ 1,5 bilhão na unidade, mais que dobrando sua capacidade produtiva

A cadeia de produção de cerveja está em alta no Paraná. Desde 2020, empresas do setor investiram cerca de R$ 5 bilhões não apenas para a fabricação da bebida no estado, mas também de outros insumos usados no processo, desde o malte até as garrafas. É um trabalho que já começa no campo, com o Paraná liderando a produção nacional de cevada e fomentando também a plantação de lúpulo, outro ingrediente utilizado na cerveja, até chegar ao copo de quem aprecia uma “gelada”.”Desde 2019 identificamos um aumento na demanda de investimentos do setor cervejeiro, que culminou nesse valor de R$ 5 bilhões aportados principalmente nos Campos Gerais e, mais recentemente, na Região Metropolitana de Curitiba”, explica o diretor-presidente da Invest Paraná, Eduardo Bekin.

Segundo o Anuário da Cerveja, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Paraná chegou a 2023 com 171 estabelecimentos registrados para a produção de cerveja e chope, quarto maior número do Brasil. E pelos dados da Junta Comercial do Paraná, são 289 cervejarias registradas no estado, sendo que 96 foram abertas entre janeiro de 2020 e agosto de 2024, 13 delas até agosto. Os investimentos em solo paranaense começam na industrialização da matéria-prima essencial, a cevada. Para reduzir a dependência de malte importado, seis cooperativas se reuniram para construir a maior planta para a produção do insumo na América Latina, a Maltaria Campos Gerais, localizada em Ponta Grossa.

Inaugurado em junho, o empreendimento recebeu R$ 1,6 bilhão de investimentos das cooperativas Agrária, Frísia, Castrolanda, Capal, Bom Jesus e Coopagrícola. A previsão é produzir, em uma primeira etapa, 280 mil toneladas de malte por ano, o que equivale a 15% da demanda nacional. No ano passado, o Brasil importou 814,5 mil toneladas do insumo. Esse volume representou um impacto de US$ 541,4 milhões na balança comercial nacional. Pelo Paraná, as importações de malte chegaram a 160,6 mil toneladas no ano passado, com receita de US$ 104,8 milhões. Pioneira na produção de cevada para a indústria cervejeira, a Cooperativa Agrária está investindo mais R$ 500 milhões em uma nova maltaria na colônia Entre Rios, onde fica sua sede, na cidade de Guarapuava. O empreendimento está sendo tocado pela Ireks do Brasil, joint venture formada pela cooperativa e pela empresa alemã Ireks, e vai ser o primeiro no Brasil a produzir maltes especiais, produto que hoje é importado, para abastecer o mercado nacional.

Outro importante investimento veio de uma empresa já consolidada no Paraná. Instalada em 2016 em Ponta Grossa, a multinacional holandesa Heineken iniciou em 2020 um processo de expansão de sua planta, com apoio do programa Paraná Competitivo. A empresa, que tinha anunciado um aporte inicial de R$ 865 milhões, acabou investindo R$ 1,5 bilhão na unidade, mais que dobrando sua capacidade produtiva. O Brasil é o maior mercado consumidor da marca no mundo. Com a ampliação, a fábrica de Ponta Grossa é a primeira a produzir chope 0.0%, uma bebida zero álcool preservando sabor e alta qualidade. Foi também a partir dos investimentos que a empresa passou a produzir sua versão zero álcool, a Heineken 0.0%, sendo a única planta que fabrica esse rótulo no país, e mais recentemente, a Sol 0.0%, mais uma aposta do grupo.

Durante o período de obras, mais de 1.400 postos de trabalho foram criados. Agora, 255 pessoas foram contratadas para a empresa, com a geração de 575 empregos diretos e milhares de indiretos em sua planta paranaense. A unidade é a que mais produz Heineken no Brasil, dentre as 14 fábricas distribuídas nas regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, e a que mais produz cerveja da marca no mundo. Além da cerveja que leva o nome da empresa e sua versão zero álcool, são produzidas na unidade marcas como Amstel, Sol, Bavaria e Kaiser. A unidade é também a primeira do grupo a produzir Heineken retornável 330 ml, contribuindo para a cadeia retornável de vidro.

Em setembro, outra empresa de bebidas anunciou a implantação de uma cervejaria no Paraná, desta vez em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. O grupo paranaense RFK, responsável por marcas como o Refriko e o energético Furioso, promete construir uma fábrica altamente tecnológica, com o uso de inteligência artificial no gerenciamento da produção para otimizar o processo de produção. A empresa, que tem um parque industrial em Cambé, no Norte do Paraná, prevê iniciar a produção na Região Metropolitana de Curitiba no primeiro semestre de 2026, com a expectativa de envasar 1,2 bilhão de litros de bebidas por ano. A planta pretende iniciar a produção com duas marcas próprias de cerveja, a Bamboa e a Moema, deve incluir um terceiro rótulo e também outras bebidas de seu catálogo.

O Paraná também está ganhando uma fábrica de embalagens da Ambev, que também conta com uma planta para a produção cerveja em Ponta Grossa. A indústria de garrafas, agora, está sendo instalada na cidade vizinha de Carambeí, com investimento de R$ 870 milhões. Em junho, a implantação da unidade já estava 80% pronta. O empreendimento faz parte do movimento de ampliar a oferta de cervejas premium no portfólio da empresa, com rótulos como Spaten, Corona, Stella Artois e Original. Serão produzidas na fábrica até 1,5 mil garrafas por minuto, chegando a 15 milhões por mês. São embalagens de diferentes formatos e cores, como long necks, 300 ml, 600 ml e 1 litro. Cerca de 2 mil pessoas trabalharam somente na construção da fábrica de garrafas, que tem previsão de gerar 170 empregos diretos para Carambeí e região e até 2 mil empregos considerando toda a cadeia.

Microcervejarias
Além das grandes empresas do setor, o Paraná também tem um grande movimento de microcervejarias, que são aquelas que produzem até 5 milhões de litros por ano. Somente a Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva) conta com 56 estabelecimentos associados, a maior parte na região de Curitiba. Um censo promovido pela associação em 2022 com 43 empresas mostrou que 76% tinham planta própria, metade delas contavam com um faturamento mensal de até R$ 100 mil e 42% empregavam até cinco pessoas. Além disso, 31% delas produziam até 5 mil litros da bebida por mês. Para fomentar esse segmento, o governo estadual oferece incentivos fiscais para a cadeia. A Secretaria de Estado da Fazenda oferece, até 31 de dezembro de 2024, crédito presumido de 13% no valor do ICMS nas vendas de cervejas e chopes artesanais no estado, com benefício limitado à saída de 200 mil litros por mês. Segundo a pasta, existe a possibilidade de prorrogação do benefício.

O diretor de marketing da Procerva, Mario Kleina, destaca que incentivos tributários são fundamentais para garantir a competitividade das microcervejarias no mercado. “A gente enxerga de maneira essencial a aproximação e o diálogo com o poder público. Conquistamos alguns ganhos significativos para as cervejarias em relação às regras tributárias, que flexibilizaram o cenário e nos tornou um pouco mais competitivos quando se comparado às grandes indústrias”, relata. “As cervejas artesanais ainda são vistas pelo consumidor como algo ainda distante, principalmente com a mudança no padrão de consumo após a pandemia. Mas a nossa ideia é popularizar esse consumo, para entrar na rotina da população”, destaca Kleina. Ele destaca a versatilidade dos sabores de cerveja que são explorados na produção especial, com o uso de diferentes ingredientes. Segundo o Anuário da Cerveja, o Paraná contava, em 2023, com 4.400 produtos diferentes, uma média de 26 rótulos por estabelecimento. “Pode variar malte, lúpulo, trazer um sensorial diferente, incluir frutas e outros insumos. Isso abre um leque gigantesco, tornando a cerveja altamente versátil, o que é muito bem recebido pelos nossos consumidores, que é um público que gosta de novidades e quer degustar coisas novas”, conclui.

Cadeia do setor investiu R$ 5 bilhões no estado desde 2020

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