Nos palcos, nas redações e nos negócios, claro
Conhecido pelas polêmicas declarações em entrevistas e lives, o cantor Ed Motta ganhou o noticiário, semana passada, por passar uma reprimenda pública em um roadie durante um show. Mais do que isso, demitiu o profissional diante da plateia, o que rendeu bafafá e explicações nos dias seguintes. Independentemente das razões de uma parte ou outra nessa discussão, a questão é: como lidar com os erros no trabalho?
Sabemos que os escritórios vivem coalhados deles, mas alguns são bastante surpreendentes.
Um exemplo é oferecido pelo ex-economista e atual ativista Eduardo Moreira. Ele começou sua carreira no mercado financeiro flagrando uma falha na fórmula do software que calculava o preço de ativos negociados no mundo inteiro. Aproveitou-se do bug, comprou os papéis e os revendeu assim que o programa corrigido foi ao ar. Resultado? Dois milhões de dólares de lucro para a casa na qual trabalhava.
Exceção? Aparentemente, não. Pelo contrário: regra. Planilhas com erros de fórmula ou cálculo constituem 94% dos “Excéis” utilizados nas empresas (Superinteressante, setembro 2024, p. 11). Quanta coisa importante não anda sendo dita ou decidida com base nelas?!
Uma das obsessões da Folha de S. Paulo em sua reformulação editorial, nos anos 1980, era a precisão da informação, o que implicava identificar os equívocos da edição do dia e corrigi-los na seguinte. Tarefa inglória: embora os deslizes fossem estatisticamente irrelevantes, a quantidade de informações que o jornal publicava diariamente era tamanha que, quando traduzidos em números absolutos, chegavam à desesperadora casa das dezenas ou centenas.
Mais desencanados eram os consultores da Mckinsey – a ponto de recomendarem deixar para lá as pequenas mancadas. O ex-associate Ethan Rasiel aconselhava futuros integrantes da “Firma” a relaxar…literalmente. “O que importa mais – que seu time tenha uma boa noite de sono antes da apresentação (do relatório para o cliente) ou um erro de digitação no documento final? Qualquer documento, de qualquer tamanho, terá alguns erros de digitação, não importa o quanto você o revise (…). Raras vezes esse erro terá de ser corrigido. Muito melhor é você comparecer à apresentação descansado (…)” (p. 89).
Aparentemente, todos esses equívocos – em planilhas, jornais e relatórios – são de atenção. Piores são os de transgressão (descumprir uma regra), conhecimento (ignorância técnica) e compreensão, aquele em que algo não é entendido como deveria (p. 95).
De que natureza terá sido o pecado do assistente técnico de Ed Motta? Pelo que o cantor diz no vídeo gravado durante a apresentação (“qualquer roadie sabe disso”), a escorregada foi de conhecimento. Mas no dia seguinte, já nas suas redes sociais, ele se queixou de uma suposta “falta de cuidado” e de “profissionalismo”. Teria sido desleixo? Indiferença? Ou mera distração?
Bem, só nos resta desejar boa sorte ao sujeito. E se depois dessa exposição pública a recolocação nos palcos for difícil, fica a dica: em bancos de investimento, redações e consultorias deve haver lugar para ele.
Nos palcos, nas redações e nos negócios, claro