Fanfarrão, básico e rasteiro

Já tivemos no Brasil espécimes mais abomináveis do que Donald Trump. Mas isso não nos impede de comentar a vulgaridade e a indecência de um canastrão, de novo investido de poderes desproporcionais

O que chama a atenção num primeiro instante é a reiteração do ódio e da soberba

1 – Já tivemos no Brasil espécimes mais abomináveis do que Donald Trump. Mas isso não nos impede de comentar a vulgaridade e a indecência de um canastrão, de novo investido de poderes desproporcionais. Pelo contrário!

2 – Daqui de Lisboa, não sacrifiquei o dia para atravessar os fusos e acompanhar a posse. Mas, ocasionalmente, dei uma olhada na televisão. Apenas o bastante, é verdade, para confirmar os piores vaticinios — de par com um embrulho na alma.

3 – Além das descortesias protocolares — bastante gratuitas — , ouvi-o se referir “ad nauseam” a muros e cercas de arame farpado num tom de animador de um convescote de senis, como se falasse de fazer benfeitorias para sua casa brega.

4 – Em tempo: o que menos me choca são as patacoadas sobre a Groenlândia ou o Panamá. O discurso do “madman” – inaugurado por Nixon e vocalizado por Kissinger — tem sua eficácia. E, na largada, pode render frutos de árvores nanicas.

5 – Por dever de justiça, tampouco me chocam as exortações sobre costumes mesmo porque a gente sabe que ele se dirige a patetas que enxergam nele a chance de se redimir da ignorância e do opróbrio. É portanto do jogo.

6 – O que chama a atenção num primeiro instante é a reiteração do ódio e da soberba. Num segundo plano, eu me pergunto: como pode alguém se acercar de gente tão ordinária e despreparada — pelo simples afã de contemplar os seus fiéis?

7 – Versado na cartilha de Roy Cohn, um advogado inescrupuloso que mandou o casal Julius e Ethel Rosenberg para a cadeira elétrica no período mais sinistro da história americana, Trump tem tudo para lançar o mundo numa quadra de agravamento de mazelas e males crônicos.

8 – Apesar de tudo, acredito que depois da largada Washington vai arrefecer a pancada e se pautar por mais realismo. Ademais de tudo, acho também que o grande mal tem o condão de agregar e de alinhar as forças do bem. E isso pode acontecer sem maior atraso. Na verdade, começou hoje.

9 – Mas também vejo na volta dele um lembrete eloquente de que o campo político da esquerda e do centro errou gravemente ao abraçar pautas identitárias idiotas em detrimento de uma visão inclusiva da humanidade, e não de clubbers. Pior: prejudicaram o melhor da direita.

10 – Não acho que Trump termine o mandato. Daqui para lá, estarei às vésperas dos meus 70 anos – se tudo correr bem. Que nos preparemos para convulsões. Ele é fraco para os pratos que lhe serão servidos. Aguentemos! Esperemos o pior e acreditemos no melhor.

Já tivemos no Brasil espécimes mais abomináveis do que Donald Trump. Mas isso não nos impede de comentar a vulgaridade e a indecência de um canastrão, de novo investido de poderes desproporcionais

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