Durante campanha, republicano prometeu que seria o primeiro crypto president
A eleição de Donald Trump marcou o setor de criptomoedas. Durante a campanha, o republicano prometeu impulsionar uma regulação mais favorável para os criptoativos e defendeu que seria o primeiro crypto president. Graças a isso, as expectativas estão altas para as primeiras decisões e ações de Trump, e o que acontecer nos Estados Unidos nas próximas semanas, meses e anos pode ditar o tom do que deve acontecer na regulação de outros países. “Nos últimos 4 anos, os Estados Unidos foram um ambiente hostil para as criptomoedas. Com a nova administração, há expectativa de uma nova regulação, mais favorável para o setor”, afirmou Brian Armstrong, cofundador e CEO da Coinbase, uma das principais empresas do setor no mundo.
“O efeito Trump não pode ser ignorado. Temos o presidente do país com o maior PIB do mundo falando que quer ser o primeiro crypto president”, disse Armstrong. “O recorde alcançado pelo bitcoin ontem foi em grande parte devido à posse”. Ele ainda destacou o potencial de os EUA liderarem uma regulação que seja mais uniforme entre diferentes países. Anthony Scaramucci, fundador da SkyBridge Capital, concordou. “Em seu discurso na Bitcoin Conference 2024 [o maior evento do setor do mundo], ficou claro que se ele ganhasse, as coisas iriam mudar na indústria de cripto. Essa é uma indústria que chegou para ficar, e existem empresas nesse setor que vão trazer inovação em pagamentos e transferências”.
Uma regulação clara e transparente é demanda antiga de grande parte das empresas que atua no setor de cripto. A alegação é que ter regras reduz os riscos e a insegurança para que mais investidores e participantes comecem a atuar no segmento. Mas mesmo os defensores da necessidade de uma regulação são vocais em defender que a regra deve ser flexível e adaptável. “Quem perde quando não há clareza regulatória é a tecnologia. E o que queremos é que a tecnologia floresça e cresça”, afirmou Denelle Dixon, CEO da Stellar Development Foundation. “Temos que fazer com que a regulação faça sentido para o setor e para a inovação”, destacou. Lesetja Kganyago, dirigente do South African Reserve Bank (SARB), foi na mesma linha. “Não importa se a regulação é para cripto, para bancos, para trade. A regulação precisa ser clara, limpa e transparente, de forma que qualquer um possa entender”, disse. “É importante que a sociedade e a regulação construam um ambiente propício para a inovação”.
Mas adaptar a regulação existente é um desafio, lembrou Jennifer Johnson, presidente e CEO da Franklin Templeton. “É importante lembrar que grande parte da regulação de ativos que temos hoje foi criada pós Grande Depressão, com o objetivo de proteger os consumidores”, disse. Segundo ela, entretanto, as regras desenhadas no passado não funcionam mais para o mundo de hoje. “É preciso mudar. Temos de lembrar do propósito com o qual as regras foram criadas e adaptá-las. O desafio da regulação é que existe muita inovação, então é difícil para a legislação acompanhar essa inovação”, afirmou. Lesetja Kganyago, entretanto, ressaltou a necessidade de a conversa sobre cripto não ficar focada apenas nos Estados Unidos, mas também no que está acontecendo em outros países e o que está sendo articulado para criar um framework global de regulação. “É preciso que existam regras fundamentais, que não serão violadas, porque há um padrão global”.
O que falta para a adoção em massa das criptomoedas?
A aprovação nos EUA dos ETFs de bitcoin à vista conseguiu atrair interesse e o capital de investidores institucionais, que antes não tinham veículos adequados para a alocação em criptoativos. Não à toa, os ETFs de bitcoin quebraram quase todos os recordes anteriores de crescimento de fundos de índice. Mas ainda há muito a avançar para uma adoção em massa das criptomoedas no mundo. “A curva de adoção está se parecendo com o começo da internet, mas ainda há desafios para a adoção em massa. A aprovação dos ETFs trouxe muito dinheiro de investidores institucionais, mas um próximo passo talvez seja uma adoção maior em países em desenvolvimento. A clareza regulatória também vai ajudar a ampliar a adoção das criptomoedas, mas temos que facilitar o uso dessa tecnologia. Eventualmente, acho que as pessoas usarão cripto sem nem saber que estão usando cripto, só estarão usando as soluções. A maioria das pessoas não sabe como a energia elétrica funciona, mas ainda assim consegue ligar o interruptor”, disse Brian Armstrong.
Denelle Dixon, da Stellar Development Foundation, defendeu que é preciso adotar também outras métricas para avaliar a adoção das criptomoedas, para conseguir uma visão além do volume de negociações. “O ponto dessa tecnologia é que você pode mover ativos extremamente rápido, de pessoa a pessoa, em qualquer lugar do mundo. É sobre velocidade e uso, não volume”, disse. Ela deu como exemplo empresas que usam o blockchain para fazer pagamentos entre fronteiras para funcionários remotos. “Nesse caso, o dinheiro sai rápido da blockchain e vai para a economia local”, ressaltou. Jennifer Johnson lembrou do potencial disruptivo da tecnologia por trás das criptomoedas, o blockchain, e destacou que as empresas precisam se adaptar. “[A criptomoeda] é um contrato programável e uma forma de pagamento. Isso é uma ameaça para os bancos tradicionais, que muitas vezes têm esse papel de intermediários para validar as informações. Mas há instituições, e espero que a Franklin Templeton seja uma delas, quem olham para a tecnologia e tentam entender como integrá-la a seu modelo de negócios, num futuro em que os smart contracts acabam com a necessidade desse intermediário para validar as transações”.
Memecoins
Nos últimos dias, a notícia de que Donald Trump e sua esposa, Melania, lançaram suas memecoins movimentou o mercado. As criptomoedas do casal presidencial registraram uma valorização importante já nas primeiras horas de negociação. Mas qual o efeito disso para o setor? Para Anthony Scaramucci, isso não é positivo. “Ainda há pessoas no poder que não estão ligadas às criptomoedas e que não entendem seu funcionamento. Quero que o primeiro contato seja com pessoas como quem está aqui no painel, discutindo o tema com seriedade, não uma memecoin”, disse. Brian Armstrong concordou com a preocupação, mas alertou que é preciso ter cuidado. “As inovações muitas vezes começam se parecendo com um brinquedo. Você pode olhar a memecoin como um colecionável, assim como as figurinhas de baseball, ou como arte. Ainda não sei exatamente como isso vai se desenrolar”, afirmou.
Reservas estratégicas em bitcoin
Mais uma expectativa quanto ao governo de Donald Trump é de que os Estados Unidos comecem a adotar o bitcoin para formar parte de suas reservas estratégicas de valor. “Outros países têm reservas em outras moedas, ou ouro, e acho que podem começar a usar bitcoin. É uma forma de manter o valor ao longo do tempo – apesar da volatilidade do preço, que está diminuindo. E acho que isso pode ser um gatilho para mais uma valorização da criptomoeda”, defendeu Brian Armstrong. Lesetja Kganyago, por outro lado, argumentou que a escolha dos ativos que devem compor as reservas de um país deve ser feita de forma estratégica. “Há um problema com o lobby para que os governos usem um ativo ou outro, sem um olhar estratégico e histórico. Por que bitcoin, não platina, não carvão ou ouro? É uma questão de política pública e eu questionaria que há uma indústria que tem um interesse em um ativo específico”. Em resposta, Armstrong defendeu que apesar de ser uma ideia nova, o bitcoin já se mostra mais fácil de transacionar e mais divisível do que ouro. “Como reserva de valor, acho que os países irão começar a usar. Pode começar com pouco, mas com o tempo acho que vai se igualar ao ouro ou mesmo superar”.
Com B3
Durante campanha, republicano prometeu que seria o primeiro crypto president