Dólar valorizado e alta dos juros impulsionam dívidas de empresas

Cenário também é responsável pela restrição de crédito restringem crédito

Estudo de Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta, mostra que quase 40% da dívida bruta de empresas é em moeda estrangeira, como a moeda norte-americana

O forte salto do dólar do terceiro para o quarto trimestre e a disparada dos juros, com o mercado já antevendo uma Selic de 15% no ano que vem, são uma pedra no sapato das empresas brasileiras em duas frentes: na alta do endividamento em moeda estrangeira, que representa quase 40% da dívida total de 102 companhias abertas, e no crédito mais caro no mercado doméstico. Somados, esses fatores devem fazer de 2025 um ano desafiador para as companhias brasileiras, em especial aquelas muito alavancadas no curto prazo e que não recorrem a mecanismos de proteção cambial.

Em uma conta simples, que não leva em conta o uso de proteção cambial e que considera que todas as dívidas são em moeda norte-americana, a disparada do dólar automaticamente elevaria o endividamento de 102 empresas brasileiras de capital aberto em R$ 39 bilhões entre o final do terceiro trimestre e o início desta semana, segundo levantamento feito por Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta. Essa despesa financeira extra, de R$ 39 bilhões, é equivalente a 53,2% do Ebit (lucro antes de juros e tributos) dessas empresas no terceiro trimestre de 2024, que foi de R$ 73,3 bilhões. “Essa projeção sublinha a necessidade de medidas robustas para proteger as empresas contra as oscilações do mercado e garantir a continuidade dos negócios mesmo em condições econômicas desafiadoras”, alerta o consultor.

Fábio Astrauskas, sócio diretor da consultoria de reestruturação Siegen e mestre em administração pela FEA-USP, lembra que a disparada do dólar se soma aos efeitos da alta dos juros neste ano, que fez com que os pedidos de recuperação judicial em 2024 superassem inclusive o ano de 2016, quando o Brasil viveu uma recessão. “E por que isso acontece, apesar da alta do PIB neste ano? É por causa da taxa de juros, que está em níveis parecidos com os de 2016. Isso mostra que as empresas estão muito sensíveis a juros e despesas financeiras, e que faltam condições para que possam pagar o serviço de suas dívidas”, destaca.

Dívida em moeda estrangeira é 38,8% do total
O estudo da Elos Ayta revela ainda que, no final de setembro, essas 102 companhias informaram uma dívida em moeda estrangeira de R$ 353 bilhões – o que representa 38,8% da dívida bruta total das empresas analisadas no levantamento. As dívidas em moeda estrangeira são tão representativas para empresas brasileiras pelo fato de os juros de empréstimos em dólar serem menores do que os brasileiros. “É um dos pontos fortes de se ter capital aberto: poder ter acesso a esse tipo de crédito”, lembra Rivero. “Mas tem o ônus da volatilidade da moeda estrangeira que pode, como aconteceu nesse trimestre, pegar pesado”, completa.

Desse endividamento em outras divisas, 19,5% do total, ou R$ 68,9 bilhões, é de vencimento no curto prazo (em até 12 meses), segundo o levantamento. Ou seja, a dívida estrangeira de curto prazo, que é a mais sujeita a variações do dólar no presente, se elevaria em R$ 7,6 bilhões apenas com o salto da moeda norte-americana. “O cenário atual é uma mistura explosiva para empresas alavancadas, principalmente para quem tomou dinheiro em moeda estrangeira e com vencimento no curto prazo”, diz Astrauskas, da Siegen. Para Rivero, empresas sem cobertura cambial adequada – como realização de hedge ou volumes relevantes de exportações, que naturalmente balanceiam o risco do câmbio – podem ver seus custos aumentarem de forma substancial em um cenário de real muito mais fraco. “A gestão de risco cambial é imprescindível para minimizar efeitos adversos da volatilidade do câmbio nos balanços das empresas”, avalia. Ele recorda que isso é uma parte do problema, já que outras 71 empresas não informaram dados de dívida em moeda estrangeira no terceiro trimestre, apesar de possuírem um endividamento importante em divisas de outros países e, portanto, ficaram de fora do levantamento.

Com Redação da B3

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