Como uma Corporation do Sul inspirou a Copel

Companhia Paranaense de Energia seguiu o modelo da Lojas Renner, a primeira empresa brasileira com 100% das ações negociadas em bolsa

Da aprovação da lei na Assembleia Legislativa, em 21 de novembro de 2022, até o toque da campainha na B3 em 14 de agosto foram pouco menos de nove meses

Foi em novembro de 2019 que começou a tomar forma a estratégia de transformar a Companhia Paranaense de Energia (Copel) em Corporation. Carlos Biedermann, um dos membros do conselho de administração da companhia de energia do Paraná, transmitiu a sugestão para o CEO Daniel Slaviero. “Sugeri que seguíssemos o modelo da Lojas Renner, a primeira empresa a se tornar Corporation em 2005, com 100% das ações negociadas em bolsa”, contou ao Portal AMANHÃ. Biedermann via na então estatal paranaense muitas semelhanças com a varejista gaúcha, como a competente gestão e o nível de governança muito qualificado. Slaviero gostou da ideia. Um dos passos seguintes foi contratar um estudo que traçou dois cenários: um com a Copel seguindo estatizada e outro como Corporation. O trabalho foi realizado pela Strategy&, empresa global de consultoria de estratégia da PwC. “O descolamento dos resultados era extraordinário”, recorda Biedermann.

De posse desses números, Slaviero convenceu o governador Ratinho Junior de que esse seria o melhor caminho para a companhia. A partir de então o processo foi rápido. Da aprovação da lei na Assembleia Legislativa, em 21 de novembro de 2022, até o toque da campainha na B3 em 14 de agosto foram exatos 266 dias ou pouco menos de nove meses. Biedermann destaca que uma das causas para essa velocidade foi o fato dos executivos da Copel terem se espelhado no processo de privatização da Eletrobras contratando, inclusive, as mesmas consultorias, como a EY – justamente a empresa onde trabalha Diogo Mac Cord, ex-secretário nacional de desestatização que havia ajudado a desenhar a capitalização da Eletrobras. Biedermann também acompanhou o staff da Copel em road shows no exterior, como em Nova York. “Sempre fomos muito bem recebidos”, conta.

Porém, o caminho até a privatização também apresentou alguns momentos desafiadores. Talvez o mais vistoso deles foi o acordo com os debenturistas, mas o percurso também teve ações no Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), Supremo Tribunal Federal (STF) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), todas vencidas pela Copel. Outra definição importante foi a aprovação, pelo plenário do Tribunal de Contas da União (TCU), do valor de R$ 3,7 bilhões a ser pago pela companhia pela renovação das concessões das hidrelétricas de Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias. De acordo com a Copel, as três usinas representam 60% da energia distribuída no estado.

Na visão de Biedermann, o fato de a gestão não estar mais atrelada às decisões que envolvem o poder público fará com que a Copel ganhe agilidade sem, por exemplo, necessitar de providenciar licitações para contratações. “A empresa poderá contratar pessoas ainda mais qualificadas, promover profissionais de forma mais rápida e, ainda, captar recursos de forma eficiente dentro e fora do Brasil. A transformação da Copel em Corporation fará a companhia voar nos próximos anos”, antevê Biedermann, pontuando um detalhe inusitado. Em uma das salas da então estatal paranaense existia uma placa que dizia “Estatal com mindset privado”. A primeira providência que foi tomada depois do toque da campainha na Bolsa foi retirá-la.

Companhia Paranaense de Energia seguiu o modelo da Lojas Renner, a primeira empresa brasileira com 100% das ações negociadas em bolsa

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