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Semana passada vazou uma cartilha de aparência e higiene pessoal do Banco Inter distribuída a seus funcionários. O manual inclui prescrições quanto a vestuário, acessórios, objetos pessoais e cuidados corporais, tornando-se tema de piada e polêmica nas redes. Estava em Marte e não ficou sabendo? Leia aqui. O que mais chama a atenção no episódio é o fato de o Inter ser um banco 100% digital. Não conta com agências físicas e, portanto, não trata com correntistas pessoalmente. Guias de como se vestir e se portar são comuns quando voltados ao pessoal de linha de frente, que representa a companhia diante do cliente, mas bem menos frequentes quando funcionários passam o dia lidando apenas com colegas.
Nesses casos, a praxe é o colaborador de baixo e médio escalão observar o que o do topo da pirâmide faz e copiar. Ele é que dá o tom. O ex-VP da Disney, Lee Cockerell aconselha: “[s]e não souber ao certo quais são os padrões de aparência pessoal no seu trabalho (…) atente às pessoas mais bem-sucedidas da sua área ou posição. Como elas se vestem? Como se apresentam?” (“A magia do atendimento”; ed. Saraiva, 2013, p.44 -45). Será que a galera do Banco Inter não tem bons exemplos nos quais se espelhar?
A despeito disso, a recomendação do banco não é despropositada. Vestir-se bem tem lá sua utilidade mesmo para o trabalho sem interface com o público. Pesquisa já demonstrou que a roupa influencia comportamento, pensamento e performance do usuário. Voluntários que vestiram jalecos brancos demonstraram, em testes, maior atenção e capacidade de flagrar erros, possivelmente em decorrência do significado da peça, comumente utilizada por médicos e cientistas (outros detalhes aqui).
Quanto aos pedidos para que funcionários atentassem a cheiro de corpo, hálito e chulé, fica aqui o registro de uma recente coluna do médico Dráuzio Varella: “Nos presídios em que atendo uma vez por semana há 34 anos, nunca soube de um homem ou mulher que ficasse um dia sequer sem banho. O número médio é de quatro por dia, no mínimo três. Muito raro atender um detento que tome apenas um ou dois. Os inimigos da água e os recalcitrantes são prontamente convencidos pelos companheiros com palavras delicadas” (texto completo aqui). Se na cadeia não é preciso cartilha, por que numa empresa seria?
O professor Harold Leavitt conta que, certa vez, um experimentado executivo palestrou a seus alunos de MBA. E não foi nem um pouco sutil: “Toda organização é uma prisão. Só que em algumas se come melhor que em outras” (Harvard Business Review Brasil, março 2003, p. 72).
E, pelo visto, se exalam melhores odores, também.
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