Em princípio, gosto de tudo o que é inglês
1 – Assisti “Adolescência”, a aclamada série de quatro episódios que parece galvanizar a Netflix. É claro que gostei do que vi. Como não nos divertirmos com as ritualizações e os floreios britânicos – especialmente quando ocorrem em circunstâncias penosas? No caso da série, com a entrada da polícia na casa de uma família simples onde prende um rapaz de 13 anos, acusado de matar uma colega de escola.
2 – Quem leu a crítica certamente percebeu que o grande destaque para os entendidos é a filmagem no chamado plano sequência. Ou seja, todas as cenas se encadeiam à frente da mesma câmera, numa espécie de take único. Sinceramente, minha ignorância em cinema me impede de ver nisto um mérito transcendente. Para mim, usem o equipamento como bem entenderem, desde que a história seja bem contada.
3 – Não quero dizer que não tenha gostado da série. É das boas, não há dúvida. É bem verdade que, como sou um rotundo alheio ao mundo dos adolescentes – há mais de 20 anos que não curto nem a companhia nem o mundo deles –, as intrigas em cima de codificações mirabolantes no Instagram só contribuem para aumentar minha antipatia pela tribo. Ainda assim, o alto desempenho do elenco acrescenta sal a um prato banal.
4 – Preso por longos meses diante do que parece ser uma alegação irrefutável, o drama foge das instâncias policiais na última parte. E concentra-se na família, na pureza do depoimento paterno à mulher. Na juventude, fora surrado pelo pai. Daí que prometera a si mesmo que jamais faria nada parecido com o próprio casal de filhos. Com o desmonte de um lar que ia bem, a pergunta é se poderiam ter evitado o mal maior.
5 – Depois do quarto e último episódio, me peguei pensando a respeito por um bom tempo. Conheço rapazes e moças – poucos – cujos rumos poderiam tomar várias direções. O suicídio, o homicídio, o parricídio, a dependência de drogas – de Ozempic, de Frontal e piores. A internet os captura. Os emojis dizem mais do que imaginamos. Na idade deles, o espectro de esquisitices de minha geração tomava outros rumos.
6 – Vejam “Adolescência” e depois me digam o que acharam. Estou curioso. Em princípio, gosto de tudo o que é inglês e não perco uma só fala dos diálogos bem tramados. Ao final, vi que o que ficou faltando do lado policial, sobrou em riqueza psicológica. O que não impede o enredo de ser singelo, à beira do raso – pelo menos para não iniciados como eu. São apenas quatro capítulos. Depois você me dirá aqui o que achou.
Em princípio, gosto de tudo o que é inglês